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O mundo de Rodrigo Lopes em Honduras

Postei aqui varias vezes sobre o tema Honduras. Falei sobre a parcialidade descarada da RBS no caso. Não esperava que a RBS mudasse. E não mudou o foc. Mudou foi a forma, pra melhor enrolar. Felismente os olhos do povo estão cada vez mais abertos. Leia este post do Blog Jornalismo B publicado na segunda-feira.

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Depois de um início de cobertura que beirava o ridículo e o surreal, o repórter Rodrigo Lopes, da RBS, diminuiu o tom de defesa do golpista Roberto Micheletti. Ainda assim, o material que tem sido publica em Zero Hora continua com um viés ideológico fortíssimo, desonesto e birrento. A reportagem publicada no jornal do último domingo, dia 4, é um exemplo da nova tendência da cobertura do jornal: posicionamento menos raivoso, mais escondido e, assim, mais convincente. Mas é só abrir os olhos, ler e perceber que o que está ali continua sendo uma defesa do golpe sofrido pelo presidente Manuel Zelaya.

A matéria “As duas faces de Honduras” (AQUI, AQUI e AQUI) conta a história da crise pretensamente pelos dois lados: “O mundo de Micheletti” e “O mundo de Zelaya”. Uma página para cada. Porém, o equilíbrio é apenas aparente. Para começar, o espaço não é o mesmo. A página com o mundo de Zelaya está dividida pela metade. A parte inferior traz um anúncio. A diferença entre as fotografias utilizadas é flagrante. Do lado do golpista, uma manifestante e uma faixa, que diz o seguinte: “De Honduras al Mundo: No queremos a Mel Zelaya”. Ou seja, é Honduras contra Zelaya, é o apoio da população a Micheletti. A foto é enorme. Na página ao lado, a foto mostra um Zelaya de costas e isolado, sozinho.

zelayaOs textos tampouco estão equilibrados. Em alguns trechos, Rodrigo Lopes reforça e assina embaixo dos argumentos / pretextos dos golpistas. Um exemplo: “(…) começava a se delinear o plano para tirar Manuel Zelaya da presidência. Na verdade, retirar não. Conforme seus adversários, o próprio Zelaya já havia se retirado do cargo, ao tentar reformar a Carta Magna”.

A oportunidade para atacar o presidente venezuelano Hugo Chávez, quando não existe, é criada sem que o repórter sequer fique corado. Acontece mais uma vez nesse texto, quando Chávez é chamado de “fantasma” e é dito que ele “estica seus tentáculos até a pequena e pobre Honduras”. Rodrigo Lopes, no mesmo parágrafo, ainda consegue colocar como problemas algumas importantes realizações e aspirações do presidente deposto: “Zelaya, um político populista no velho estilo latino-americano, não apenas aumentou o salário mínimo, mas mexeu nos interesses de cinco famílias que controlam a política hondurenha há décadas (…)”.

No final deste primeiro texto, ainda coloca-se os defensores de Zelaya como vândalos que destruíram as pobres plantinhas da casa de uma jornalista para entrarem na embaixada brasileira.

O texto sobre o “mundo de Zelaya” é mais insosso, mas não foge à prática de tentar mostrar o presidente deposto como um “populista no velho estilo latino-americano”, e ridicularizá-lo como um desses líderes folclóricos de uma república de bananas. O texto de Rodrigo Lopes é impregnado de preconceitos, e termina falando em “marchas com chapéus de caubói e linguiça frita em chapa quente”.

Tenho dito no nosso Twitter e repito aqui: acho muito difícil que em algum lugar do planeta se esteja fazendo uma cobertura tão ruim da crise em Honduras como a feita por boa parte da grande imprensa brasileira, incluindo aí Rodrigo Lopes. A questão eleitoral brasileira está influenciando nisso, e o preconceito e temor quanto à clara tendência de avanço de governos de esquerda na América Latina, também.

Postado por Alexandre Haubrich

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