Por Vinicius Wu
O episódio da alteração dos perfis de Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg na plataforma colaborativa Wikipédia tem tudo para entrar para a história do jornalismo brasileiro como uma das mais grosseiras e levianas tentativas de manipulação da informação e de criação de factóides, com evidente motivação político-eleitoral. Porém, o mais importante no caso é compreendermos que, ao contrário do que sustentam as supostas “vítimas”, não é a edição de seus perfis o que ameaça a democracia, mas sim a capacidade de um veículo de comunicação transformar algo irrelevante em “escândalo” nacional.
Até o mundo mineral sabe que não há qualquer controle sobre as edições realizadas na Wikipédia e que é muito difícil rastrear toda a rede que serve ao Palácio do Planalto, portanto, é muito provável que o “responsável” pela edição dos perfis jamais seja encontrado. Logo, nunca saberemos o que, de fato, ocorreu. Talvez isso explique a desfaçatez de Miriam Leitão ao afirmar, em artigo publicado em O Globo, que “alguém deu ordem para que isso fosse executado” e que isso faz parte de “uma política”. Fazer afirmações dessa natureza é tão leviano quanto afirmar que a própria jornalista teria feito as alterações, apenas para ganhar notoriedade. Simplesmente não há como provar uma coisa, nem outra.
Há muitas questões a serem levantadas no episódio. Por ora, pode-se afirmar qualquer coisa e levantar suspeitas sobre qualquer um! E, a propósito, cabe suscitar algumas questões: por que, tendo sido feita há meses, a edição só foi “denunciada” agora? E por que não supor que um jornalista qualquer, em visita ao Palácio, possa ter feito o “serviço”? Além disso, qual “crime” mesmo teria sido cometido? Alteração de uma plataforma aberta virou crime no Brasil? Afirmar que um jornalista “faz previsões desastrosas” é caluniar alguém? E por que O Globo dedica mais espaço a esse tema do que ao aeroporto construído na fazenda do tio de Aécio? São apenas algumas dúvidas bem pertinentes sobre o caso. Poderíamos estender a lista.
Mas o que realmente preocupa no caso é a tentativa de transformar um episódio banal em um escândalo com proporções nacionais. Isso, sim, é uma ameaça à democracia. Pois, se um veículo de comunicação pode pôr em risco a credibilidade de nossas instituições democráticas apenas porque um de seus funcionários teve seu perfil alterado numa plataforma que busca, exatamente, a interferência e a colaboração de seus usuários, então temos um risco evidente ao processo democrático. Se essa farsa for bem sucedida – e tiver algum tipo de influência sobre as eleições – não haverá mais limites à manipulação da informação no Brasil. É o retorno ao debate editado de 1989. E isso em plena era da internet!
Não é razoável que pautas verdadeiramente relevantes para o país sejam ofuscadas por uma sórdida tentativa de manipulação e interferência no processo eleitoral de um grupo de mídia privado. Menos razoável ainda, que um veículo de comunicação pretenda impor a uma nação de mais de 190 milhões de cidadãos um debate inócuo sobre um “escândalo” que não passa de uma piada de mau gosto.
Por fim, fica a expectativa de que o episódio acabe como apenas mais uma anedota das disputas eleitorais no Brasil, a exemplo da bolinha de papel de José Serra em 2010. Caso contrário, é melhor estar preparado para a emergência de um poder absoluto no país, sob a tutela dos monopólios da informação. E, como qualquer poder absoluto, este também representará uma séria ameaça à democracia.
Descubra mais sobre Luíz Müller Blog
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
Controle norte-americano, simples assim.
CurtirCurtir