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Nova ofensiva de USAID e NED na América Latina

b_450_0_16777215_00_http___lapupilainsomne.files.wordpress.com_2011_12_pirata-usaid.pngAmérica Latina – La Haine – [Juan Manuel Karg, traduzido e publicado no Diário Liberdade] Entre o ZunZuneo em Cuba e as ONG’s de direitos humanos no Equador, as agências de “ajuda ao desenvolvimento” do regime dos EUA fortaleceram sua ofensiva.


Nos últimos dias foram conhecidos dois novos fatos preocupantes para a soberania de nosso continente, com ingerência direta de Washington em ambos. Primeiro, através de uma investigação da Associated Press que comprovou que a criação da rede social “ZunZuneo” em Cuba foi financiada pela USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) para tentar desestabilizar o governo cubano, tal como denunciaram os três jornalistas que investigaram o caso. Depois, através da filtração midiática sobre a “generosidade” da NED (Fundação Nacional para a Democracia) com quatro ONG’s do Equador, que, durante 2013, receberam 263 mil dólares para “proteger a liberdade de imprensa e os direitos humanos” no país, algo que é afirmado por documentos da própria NED. Esses são fatos isolados no mapa geopolítico continental ou representam uma política de deliberada ingerência de Washington nesses países? Quais antecedentes de intromissão nos assuntos internos daqueles países que contam com governos pós-neoliberais podemos encontrar por parte dessas agências?

A revelação da Associated Press sobre os nexos dos Estados Unidos com a criação de uma rede social contra o governo de Raúl Castro em Cuba sacudiu o conselho dos noticiários jornalísticos internacionais no início deste mês. Na investigação dos jornalistas Desmond Butler, Jack Gillume Alberto Arce se dá conta da participação direta do funcionário estadunidense Joe McSpedon na criação do “ZunZuneo”, uma rede de mensagens de texto cujo objetivo era chegar a milhares de cubanos afim de desgastar o governo de Castro, tentando criar uma “primavera cubana” – tal como figura nos próprios relatórios da USAID, que financiou o projeto. Para seu plano, McSpedon contratou especialistas em comunicações e alta tecnologia provenientes da Costa Rica, da Nicarágua, e de Denver e Washington nos EUA. Sua intenção era, como afirmou a AP em sua extensa narração sobre esses fatos, “criar um intrincado sistema de empresas fachadas com uma conta bancária nas Ilhas Cayman” para, dessa forma, ocultar o que estava por trás da rede do próprio governo cubano.

Como o “ZunZuneo” criaria a base de seus usuários para depois desenvolver sua verdadeira finalidade? Usando “conteúdo não controverso”, de acordo com a descrição de relatórios da própria USAID: notícias, música e publicidades, para uma primeira etapa de criação de audiência sem nenhum conteúdo político – assim, chegou aos 40 mil usuários na ilha. “Não se mencionará em hipótese alguma a participação do governo dos EUA”, se pode ler em um texto de preparação do Mobile Accord, um dos contratistas do projeto, que também afirmava que esse fiador seria “totalmente crucial para o êxito a longo prazo do serviço”. A USAID projetava, de acordo com a inverstigação da AP, que após ganhar audiência, se procederia a etapa de começar a enviar conteúdo político, com o fim de fazer convocações “espontâneas” para, como afirma o projeto, “renegociar o equilíbrio de poder entre Estado e sociedade”.

O Equador, por sua vez, é outro dos focos informativas sobre essa nova ofensiva das agências de Washigton. Ocorre que a NED garantiu financiamento a quatro ONG’s que, durante 2013, efetuou tarefas de “proteção à liberdade de expressão de jornalistas” e “defesa dos direitos humanos”, desembolsando mais de 263 mil dólares de parte da agência estadunidense. Em que contexto se dá essa informação sobre o financiamento da NED a essas ONG’s? Logo após o informe anual de Washigton sobre os direitos humanos no mundo, em que o Equador se somou à “lista negra” por, supostamente, não garantir uma plena liberdade de expressão em seu território. É preciso recordar que, no final de 2013, foi anunciada a saída da USAID do Equador após o cancelamento dos projetos que a agência tinha em Quito, levando o chanceler equatoriano Ricardo Patiño a declarar que “se a USAID decidiu ir embora, não vamos pedir que ela volte”.

Ao chegar a este ponto, é bom relacionar esses recentes casos com a expulsão da ONG dinamarquesa Ibis do território boliviano, após o governo de Evo Morales afirmar que contava com provas confiáveis do envolvimento da Ibis na política interna do país. Por sua vez, a USAID também havia saído da Bolívia antes desses fatos, também acusada de agir contra o governo de Morales. A ligação entre esses fatos e os “novos” que detalhamos anteriormente é clara: ante uma situação de maior instabilidade na Venezuela Bolivariana, onde o próprio governo tem denunciado em reiteradas ocasiões a intromissão de Washington durante os protestos recentes, as agências estadunidenses seguem atuando em outros países de governos pós-neoliberais no continente – em particular, como vimos nos exemplos que mencionamos, os da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América, ALBA. Não é de se estranhar que, após o triunfo do candidato da “nova direita” Mauricio Rodas no município de Quito, o Equador passe a ser um dos objetivos “privilegiados” de Washington na região (mais além do que Rafael Correa já anunciou que tentará uma reforma constitucional que o permita poder se eleger novamente nas próximas eleições presidenciais).

Essa “nova reofensiva” das agências de Washington, conhecida apenas uma semana depois das novas revelações de Edward Snowden sobre a espionagem da NSA a 122 presidentes de todo o mundo, segue mostrando a voracidade com a qual os EUA atuam no plano internacional – e, em particular, na nossa região, seu antigo “quintal”. Se não mostrarem firmeza e autonomia a respeito dessas tentativas deliberadas de ingerência na América Latina, os governos latino-americanos – especialmente os pós-neoliberais – correrão o risco de sucumbir ante essa nova fase de Washington, que conta com a vigilância e a ação “via terceiros” (sejam ONG’s ou empresários das telecomunicações) como partes inseparáveis de um mesmo plano: a desestabilização. Ao que parece, contra-atacar a nova fase de ingerência dos EUA – mais silenciosa, mas com difusos limites éticos e morais – será um desafio importante para os países que buscam uma ordem social diferente, mais justa e solidária, e que por isso enfrentam dia a dia os embates de uma potência com cada vez menos escrúpulos.


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