Não sei se você já viveu essa situação. Eu, sim. Quem foi ou é jogador de futebol sabe como é.
Falo do ponto de vista de quem chuta o pênalti, meu caso em priscas eras, não do goleiro, que não quer que o gol aconteça. Lembro de dois momentos que vivi, pelo início dos anos 1970. Um num potreiro, antigo campo do 25 de Julho de Santa Emília, outro na inauguração do novo campo do São Luiz, meu time do coração de sempre, também de Santa Emília, Venâncio Aires, interior do interior do Rio Grande do Sul (aliás, Santa Emília celebra 150 anos em 2015, com grande festa dias 5 e 6 de dezembro). Eu era o chutador dos pênaltis.
Precisa de calma, ‘muita calma nessa hora’. Não pode tremer. Ajeitar a bola com cuidado, especialmente quando é um daqueles campos antigos, como era o caso, cheio de buracos, grama rala, goleira pequena, ondulações, goleiro grande que se agiganta quando abre os braços, torcida parada a um metro dos três – de quem chuta, de quem defende e do juiz -, presa a respiração, emoção no ar, silêncio. É preciso saber o que fazer, analisar os movimentos do goleiro, como ele se posta, se está concentrado ou não, olhar no olho e… decidir. Decidir o canto, bola alta, baixa, rente ao chão, meia altura, com paradinha ou não.
Decidir, acertar, fazer o gol. Digo para vocês: não é fácil, até correr para o abraço e a glória (já o goleiro, imagino, deve sentir um frio enorme na barriga, a necessidade absoluta de concentração, de adivinhar o canto onde a bola vai entrar, e assim mesmo vê-la entrando, morrendo no fundo do gol).
Estamos em tempos de cobrar o pênalti no Brasil.
Márcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, compara a crise atual à experimentada pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek logo após sua eleição em 1955. “Juscelino tinha apenas cerca de um terço de apoio no Congresso e começou a governar em meio a políticas de apoio à austeridade. A saída que encontrou para conseguir se movimentar neste cenário foi estabelecer uma conexão com a sociedade por meio de um programa de expansão para o país, o famoso Plano de Metas.”
Segundo Márcio, o atual cenário político também exige do governo um movimento para a sociedade, através de um projeto que reconecte com a sociedade. “O governo está aprisionado no curto-prazismo, sem fazer a pergunta mais importante hoje: qual projeto pode unificar o país? Juscelino reorganizou os interesses da sociedade em torno de objetivos concretos. E a partir desse apoio da sociedade civil, reconectou com a maioria do Congresso Nacional.”
Para Márcio Pochmann, em entrevista ao Instituto Humanitas (IHU), “o governo precisa de mobilização social. Só assim será possível fazer as reformas estruturantes, que pensem o projeto de desenvolvimento no médio e longo prazo. Do contrário, não será possível romper o círculo vicioso que se apoia no desenvolvimento econômico do cidadão e não no desenvolvimento como agente político transformador”.
A presidenta Dilma, no discurso na cerimônia de abertura do 12º Congresso Nacional da CUT, em São Paulo, sinalizou: “Sei que a CUT continuará lutando as lutas que nós todos defendemos ao longo da nossa história. A nossa hora é a hora de unir forças. A hora da unidade, a hora de arregaçar as mangas, a hora de combater o pessimismo, combater a intriga política. Acerta a CUT quando diz no lema deste 12º CONCUT: direito não se reduz, se amplia. Permito-me também acrescentar: democracia não se reduz, se amplia.”
A presidenta terminou sua fala citando o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, presente, ao lado de Lula: “Cito aqui as sábias palavras de Don Pepe Mujica, essa pessoa sempre inspiradora que lutou a vida inteira, que ficou 13 anos privado da liberdade: ‘Esta democracia não é perfeita porque nós não somos perfeitos. Mas temos de defendê-la para melhorá-la, não para sepultá-la’.”
Segundo o já mítico Pepe Mujica, “a única luta que se perde é a que se abandona. Não se pode viver sem esperança.”
A bola está na marca do pênalti. O goleiro está pronto para defendê-la. Não é hora de vacilar. Perde o pênalti quem não tem olhar atento, determinação, coragem, fé na vitória e projeto de futuro.
É hora de marcar o gol: ampliar os direitos, ampliar a democracia.
*Selvino Heck é Assessor da Secretaria de Governo da Presidência da República
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