Até o fim dos anos 70, a distribuição de energia elétrica em São Paulo era feita pela Light — uma multinacional canadense. A Light prestava um serviço extremamente porco e não investia nem na ampliação nem na manutenção da rede de distribuição. O serviço era tão deficiente que começou a colocar em risco o desenvolvimento industrial em São Paulo. Os moradores da capital paulista enfrentavam um racionamento permanente e ficavam entre 6 e 8 horas por dia sem energia elétrica.
Foi por conta da necessidade urgente de melhorar o serviço de distribuição de energia no eixo Rio-São Paulo que a Light foi estatizada. Em São Paulo, a distribuição ficou a cargo de uma nova estatal — a Eletropaulo. Ao longo dos anos 80, a Eletropaulo fez investimentos massivos na ampliação e modernização da rede de distribuição de energia elétrica. Foi graças à estatal que São Paulo praticamente universalizou o acesso à energia elétrica.
No começo dos anos 90, a Eletropaulo era uma das maiores distribuidoras de energia elétrica do mundo. E despertou a cobiça do setor privado, justamente no momento de ascensão do ideário neoliberal e da assimilação dos ditames do Consenso de Washington. Adotou-se a tradicional dobradinha privateira: o governo paulista sucateava a empresa, ao mesmo tempo em que a imprensa respondia com uma campanha de demonização da estatal, angariando apoio para o discurso do “privatiza que melhora”. Em 1999, o governador Mário Covas privatizou a Eletropaulo a preço de banana — dois bilhões de reais. A empresa foi adquirida pela multinacional estadunidense AES Corporation e depois revendida para a italiana ENEL.
Nada muito diferente do que acontece no RS, cujo Governador Tucano, Eduardo Leite, entregou a CEEE pelo preço de um transformador de Alta Tensão, depois de um sucateamento sem precedentes promovido pelo Governo e ampla campanha da RBS e do resto da mídia gaúcha com notícias e colunistas a repetir jargões como “privatiza que melhora”.
Com a privatização, o foco da antiga Eletropaulo passou a ser a maximização do lucro — e não a prestação do serviço e o bem estar da comunidade. Resultado: o número de funcionários empregados pelo serviço de distribuição de energia, que era 27.500 com a Eletropaulo em 1999, caiu para 3.700 em 2023. O serviço de manutenção foi praticamente extinto.
É por isso que qualquer garoa em São Paulo derruba a distribuição de energia. O tempo de religação, que com a Eletropaulo seguia o padrão internacional, limitado a até 2 horas, hoje pode passar de dias.
A empresa não tem equipes para atender a demanda. As tarifas, por outro lado, subiram exponencialmente. Somente na primeira década após a privatização, a conta de luz dos paulistanos sofreu um aumento de 324%.
Esse é o legado da privatização de Empresas Públicas de Energia e todas as outras, como as de Água. Pagar o triplo pra ter um serviço piorado.
Se encaixa bem aí a frase “A História se repete, na 1ª vez, como tragédia…Na 2ª como farsa” de Karl Marx. Ou não?
Informações sobre São Paulo, do Pensar a História no Twitter
A CESP, onde trabalhei por 22 felizes anos também teve o mesmo destino: privatizada. Porém, primeiro foi dividida em 5 empresas: três de geração, uma de distribuição e outra de transmissão, cabendo à própria Cesp – última a ser privatizada – ficar com toda as dívidas. As demais foram vendidas enxutas. Ou seja prontinhas pra só faturar, sem dívidas e sem custo de empréstimos e financiamentos. Que beleza, não?
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A CESP, onde trabalhei por 22 felizes anos também teve o mesmo destino: privatizada. Porém, primeiro foi dividida em 5 empresas: três de geração, uma de distribuição e outra de transmissão, cabendo à própria Cesp – última a ser privatizada – ficar com toda as dívidas. As demais foram vendidas enxutas. Ou seja prontinhas pra só faturar, sem dívidas e sem custo de empréstimos e financiamentos. Que beleza, não?
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E pior. Daqui a pouco, encerrados os períodos de contratação privada, estas não dão conta de investir o que precisa ser investido e aí o Estado vai lá e coloca subsídios pra elas.
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A privataria avançou forte em Estados governados por Neo Liberais e se sentiram mais livres ainda no Governo Bolsonaro, com o BNDES liberando recursos para a compra de Estatais. Os caras compraram as Estatais com dinheiro do Proprio Estado. É uma bandalheira.
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