Originalmente Publicado por OBSERVATÓRIO LUPA

Grupos de direita mantêm uma estrutura mais ampla para engajar e distribuir conteúdo no WhatsApp do que os de esquerda. É o que mostra um relatório inédito da Lupa, divulgado nesta segunda-feira (3), que analisou a circulação de conteúdos políticos no aplicativo de mensagens. Segundo o estudo, os grupos de direita foram quase sete vezes mais numerosos e concentraram a maior parte das mensagens virais encaminhadas.
Com o uso da ferramenta Palver — que monitora de forma anonimizada o conteúdo de mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp no Brasil, acessando cada um deles individualmente — o Observatório Lupa analisou 244 mil mensagens publicadas no aplicativo, em português, entre 1º de julho de 2024 e 1º de julho de 2025. Todas foram marcadas pela Meta com a etiqueta “encaminhada com frequência”. O acervo inclui textos, áudios, imagens e vídeos que circularam em 125 mil grupos públicos do WhatsApp.
O levantamento mostra que a política não é apenas o tema mais recorrente entre as mensagens super virais, mas também o campo onde as narrativas se apresentam de forma mais agressiva e coordenada. Na amostra analisada, os grupos foram “indicando uma infraestrutura de disseminação mais robusta e ativa nesse espectro ideológico”, destaca o estudo.
“É muito importante entendermos as dinâmicas do WhatsApp e, principalmente, o perfil dos grupos onde as mensagens mais virais circulam. Esse conhecimento permite a criação e adoção de medidas de comunicação mais eficientes de combate à desinformação”.
– Beatriz Farrugia, pesquisadora e analista da Lupa
Durante o período analisado, o estudo identificou três principais eixos de conversa: ataques ao Judiciário e ao Supremo Tribunal Federal (STF), com foco no ministro Alexandre de Moraes; críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT); e, por último, reinterpretação de temas relacionados à economia, segurança e costumes.
“A análise do que mais viralizou em grupos públicos de WhatsApp do Brasil entre julho de 2024 e julho de 2025 revela um ecossistema informativo onde a política não é apenas mais um assunto, mas a lente através da qual todos os outros temas são vistos e distorcidos. É um ambiente de engajamento intenso, onde a emoção do vídeo e a confiança dos grupos privados se combinam para criar um dos mais potentes e perigosos campos de batalha da democracia brasileira”, conclui o levantamento.
Alexandre de Moraes, por exemplo, é ironicamente chamado de “aLEIxandre”, “imperialista com vestes de Deus” e “assessor do diabo”, enquanto o ministro Gilmar Mendes é apelidado de “Laxante” em alusão à suposta soltura de criminosos. A narrativa central nos grupos de direita, identificada pelo estudo, sustenta que o Judiciário atua para perseguir adversários e manipular a democracia, promovendo censura e instaurando uma ditadura.

Para o pesquisador Lucas Missau, doutor em Comunicação pela Universidad Nacional de La Plata, em Buenos Aires, a direita demonstra maior organização de pautar e inundar plataformas como o Facebook com informações que depois ganham relevância em grupos públicos de aplicativos de mensagem. A conclusão está em um estudo feito por ele este ano na revista científica Cuadernos.info, que aponta que a formação de comunidades digitais em contextos eleitorais polarizados é determinada pela interação dinâmica entre temas e atores.
Missau avalia que esse alcance é impulsionado pela conexão com pautas culturais e identitárias, pela capacidade de expansão das mensagens para diferentes comunidades e pela própria dinâmica das plataformas e dos atores que agendam e alimentam. Ele acredita que as pautas culturais e identitárias continuarão a ter alto potencial de engajamento nas eleições de 2026.
“Vejo que a esquerda também está se mobilizando nesse sentido. Não sei se alcança esse volume [da direita] em 2026″, pondera. O pesquisador cita como exemplo a campanha “Ele não”, de 2018, que gerou coesão interna apenas entre páginas alinhadas à esquerda e ao Partido dos Trabalhadores (PT). Já a resposta “Ele sim”, impulsionada por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), teve efeito oposto: extrapolou as bases bolsonaristas e alcançou outras comunidades, como as religiosas.
Ataques miram Lula e o PT
O governo do presidente Lula e o PT apareceram como o segundo maior alvo das mensagens super virais. O petista é frequentemente chamado de “ladrão” e “ex-presidiário”, enquanto o partido é descrito como “organização criminosa”. As mensagens retomam escândalos de corrupção do passado – como Mensalão, Petrolão e Lava Jato – e criam novas acusações, entre elas uma suposta ligação do governo com facções como Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV).
A primeira-dama, Janja da Silva, também é alvo recorrente nas narrativas virais, geralmente associada a críticas pelo uso de recursos públicos em viagens nacionais e internacionais.

Ataques ao governo Lula o associam ao PCC. Foto: Reprodução
Pautas ideológicas e segurança pública
Temas de cunho ideológico também aparecem com força entre as mensagens virais. São frequentes as críticas à chamada “ideologia de gênero” e elogios ao regime militar de 1964. Um áudio atribuído ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que circulou em abril de 2025, defende o golpe como “uma exigência da sociedade” para “restabelecer a ordem”.
A segurança pública é outro assunto recorrente nesse universo, com destaque para a ADPF das Favelas — que discute no STF a atuação policial nas comunidades do Rio de Janeiro —, além de mensagens sobre o suposto “solta e prende” de criminosos reincidentes, decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) relacionadas ao tráfico de armas e relatos de violência local.

Vídeo com montagens de fotos e áudios de Bolsonaro supostamente exaltando o regime militar
Comentário do Blogueiro: Sou frequentador de muitos Grupos de Petistas e da Esquerda. Mas sempre tenho a impressão de que ali muitos “só querem falar” ou compartilhar conteúdos e poucos “ouvem” e se interessam por compartilhar conteúdos publicados dali para as Redes, por melhores que sejam. Também há muita gente que até concorda com os conteúdos, mas que acaba não compartilhando, por que acha que os outros já sabem.
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Uma merda, né?
BOM DIA!!!
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Difícil. Mas é preciso enfrentar. A Esquerda precisa aprender
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