Fraternidade

Campanha da Fraternidade 2026: Fraternidade e Moradia (Por Selvino Heck)

“A Campanha da Fraternidade nasceu em Nísia Floresta, RN, na Quaresma de 1962. (…) Campanhas de conscientização como a ´De pé no chão, também se aprende a ler´, as experiências do Movimento de Educação de Base (MEB), o Serviço de Assistência Rural (SAR) e a Pedagogia da Esperança, desenvolvida por Paulo Freire, ali perto, no município de Angicos, RN, inspiraram a metodologia da Campanha da Fraternidade. (…) Ela nasceu como uma atividade ampla, em tempo determinado, com arrecadação financeira: uma verdadeira Campanha. Deveria promover a fraternidade cristã mediante a colaboração com os mais necessitados. Por isso, Campanha da Fraternidade, expressão da solidariedade da Igreja em favor da dignidade da pessoa humana. Fraternidade é seu foco permanente. (…) Em 1964, em pleno desenvolvimento do Concílio Vaticano II e do duro golpe militar no Brasil, realizou-se a primeira Campanha da Fraternidade em âmbito nacional, sob os cuidados da Cáritas e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), sob as bênçãos de Dom Helder Câmara, Secretário-Geral da CNBB” (Introdução, Texto-Base da Campanha da Fraternidade 2026, pp. 15-16).

O tema da Campanha da Fraternidade 2026 é FRATERNIDADE E MORADIA, e acontece, como sempre, no método Ver, Julgar e Agir.

O tema da moradia foi urgente ontem e assim continua hoje. Alguns aspectos da realidade de ontem, 1990: “MORADIA: uma situação que se agrava. Basta dar uma olhada nas cidades e notar o contraste que existe entre uma minoria que DOMINA e desfruta dos bens e a maioria que é explorada e marginalizada. São milhares de favelas, de menores abandonados, de pessoas vivendo sem água, luz, ou as mínimas condições de vida. A grande maioria mora distante do trabalho, o que aumenta o desgaste físico e diminui a renda familiar. 53% do total da área de POA está desabitada e pertence a 15 proprietários, o que equivale a 0,1% da população da capital. Em contrapartida, 3% da área abriga cerca de 200 mil pessoas, correspondendo a 16% das pessoas que moram em Porto Alegre” (Selvino Heck, Deputado estadual , MORADIA: UM DIREITO DE TODOS,  publicação da Assembleia Legislativa, 1990).

Diz o Texto-Base da CF/2026 (p. 21 e ss.), sobre o problema da moradia em 2026 em ´1. – VER – a realidade da moradia no Brasil´: “No Brasil, 6 milhões de famílias necessitam hoje de uma moradia, por estarem em habitação precária, em coabitação ou com aluguel excessivamente caro, o que representa 8,3% dos domicílios existentes no País. Somam-se outras 26 milhões de famílias que moram em situação inadequada (em áreas de risco, sem infraestrutura  ou com infraestrutura insuficiente, segregação social,  longe de equipamentos públicos e sem as políticas públicas básicas, com forte influência do crime organizado, entre outros. Além disso, existem mais de 300 mil pessoas vivendo na rua – número que cresceu expressivamente nos últimos dez anos.

Para entender o problema da habitação, precisamos colocá-lo no contexto da enorme desigualdade social que caracteriza nosso país. O Brasil não é um país pobre, é um país extremamente injusto. Dois são os fatores principais que produzem essa desigualdade: nosso sistema tributário (impostos) e o sistema da dúvida pública. A confluência destas duas situações – o sistema tributário e o sistema da dívida – faz com que haja uma transferência de renda da maioria da sociedade, a parte que ganha menos, para a pequena camada mais rica, que vai concentrando cada vez mais renda e riqueza” (Texto-Base da CF/2026, pp. 27 e 28). 

É fundamental achar exemplos bem concretos e atuais da realidade brasileira e da desigualdade social hoje, 2025. Para isso, basta visitar e ler Imóveis de Valor, que circula todas as sextas-feiras no jornal Valor, do Grupo Globo (www.valor.com.br).

Vejamos algumas manchetes e matérias de 2025: “Arquitetura de alto padrão abraça o conforto e a autenticidade das antigas fazendas. Em Itaipava, distrito de Petrópolis, destaca-se a proposta da Fazenda Bela Vista. Ali nasce um condomínio de alto luxo cujo projeto prevê unidades multifamiliares, a partir de R$ 900 mil, e lotes de até cinco mil metros quadrados, com valores de R$ 1,9 milhão a R$ 4 milhões” (Valor, Imóveis de Valor, B12, 14.10.25).

Mais. “Gramado e Canela superam desafios e voltam a crescer. Com lançamentos, aumento do VGV e valorização do metro quadrado, mercado das duas cidades gaúchas mostra resiliência e vive ano de retomada. Agora, em Canela, o Laje de Pedra Hotel & Residences terá 67 unidades de 53 a 144 metros quadrados, 35 delas voltadas para o Vale do Quilombo, com valores de R$ 4 milhões a R$ 14 milhões (Valor, Imóveis de Valor B10, 27.06.25).

Mais. “Segmento corporativo tem boom de negócios. Na capital paulista, demanda por grandes espaços, redução da vacância, valorização de ativos premium e concorrência entre regiões marcam o primeiro semestre do ano (Valor, Imóveis de Valor, B9, 27.06.25).

“Paraíso: opção para morar e rentabilizar. Bairro central da capital paulista, no Parque do Ibirapuera, combina dinamismo e convivência tranquila com um dos melhores índices de valorização do metro quadrado nos últimos 12 meses. Não por acaso, Paraíso está entre os dez bairros com o metro quadrado residencial mais valorizado para a venda no último índice Fipezap, de junho: R$ 13,5 mil. Em 12 meses, o valor dos imóveis subiu 6,2%, a quarta melhor performance, atrás apenas do Itaim, da Vila Mariana e dos Jardins. Diz a vice-presidente da Incorporadora: ´Buscamos um público que valorize a exclusividade, o design, o conforto e a qualidade de vida proporcionada pelo projeto, inserido em um bairro com fácil acesso a lazer, atividades culturais e negócios´, explica Bianca” (Valor, Imóveis de Valor, B10, 18.07.25).

Mais manchetes: “Vitória: novo fenômeno imobiliário nacional. Mercado da capital capixaba vive alta valorização de projetos e destaque para o uso de matérias-primas locais” (Valor, Imóveis de Valor, B10, 25.07.25). “Vinhedos sofisticam residenciais no país. Condomínios com vinícolas conquistam o mercado imobiliário, aliando alto padrão e enogastronomia. Os projetos estão nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste” (Valor, Imóveis de Valor, B9, 25.07.25).

Mais. “Ruas que reúnem os imóveis mais caros vendidos em SP. Com valores recordes e demanda restrita a poucos endereços, o segmento de alto padrão mostra estabilidade em regiões já consagradas da capital paulista” (Valor, Imóveis de Valor, B11, 03.10.25). “Preço do metro quadrado de luxo disparou no 1º semestre. Imóveis de alto padrão do Rio de Janeiro registraram alta de 42% no período. Leblon foi o bairro mais caro, e a Barrada Tijuca teve a maior valorização” (Valor, Imóveis de Valor, B12, 15.08.25.) “Belo Horizonte entra na rota do mercado imobiliário de luxo. Projetos de alto padrão se multiplicam na capital mineira, que está recebendo também empreendimentos assinados por grifes internacionais. A região de Nova Lima, na Grande BH, vem se consolidando nos últimos anos como o principal destino dos projetos imobiliários de alto padrão, em Minas Gerais” (Valor, Imóveis de Valor, B12, 22.08.25). “Boom imobiliário de luxo redefine a Costa dos Milagres. Cidades da região no litoral norte de Alagoas, a apenas 1h30m da capital Maceió, ganham relevância com projetos de altíssimo padrão e estão se consolidando como pólos de investimentos e segunda residência” (Valor, Imóveis de Valor, B14, 24.10.25).

Este é o verdadeiro retrato do Brasil de hoje, 2025. A elite e a burguesia brasileira continuam vivendo tri bem. O que explica porque são sempre contra qualquer reforma tributária que produza igualdade e justiça social. Trabalhadoras e trabalhadores, especialmente os mais pobres entre os pobres, continuam vivendo e morando na pobreza. 

A Campanha da Fraternidade/2026, dizendo e fazendo com e como Jesus “Ele veio morar entre nós (Jo 1, 14), mostra a realidade brasileira e faz a necessária reflexão nos tempos atuais. E pede a participação católicas e católicos, cristãs e cristãos, e crentes de todas as religiões.

O que fazer? O Julgar e o Agir ficam para próximos artigos.

Selvino Heck

Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990)

Em dezenove de novembro de dois mil e vinte cinco


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