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OS 40 ANOS DE “VERDADES MENTIDAS” DO JORNAL NACIONAL

Por Luiz Müller

Os meios de comunicação se utilizam da linguagem. A linguagem é composta de símbolos. Estes símbolos expressam elementos do contexto, convenções de uso e intenção dos falantes. Para o filósofo Jonh L. Austin a linguagem não é só representação da realidade mas sim ação na realidade. A Rede Globo comemora 40 anos. Neste tempo os brasileiros viram e ouviram muito da telinha. A copa do mundo de 70 era mostrada como panacéia para todos os males dos 90 milhões de brasileiros. Fui um dos que vibrou muito naquela época. Enquanto isto os assassinatos de militantes comunistas no Araguaia eram mostrados como resultado final de uma aventura tresloucada de alguns. E muitos acreditaram. Tanto que quando Maluf distribuiu um carro para cada jogador da seleção com recursos públicos a Globo elogiou e o povo aplaudiu feliz. O Jornal nacional, assistido por milhões de brasileiros a cada noite mostra “a verdade dos fatos”, através da linguagem, de imagens selecionadas por quem escreve a linguagem e ou é pago para isto, e de caras e bocas dos apresentadores. E o que dizer do destaque dado agora a corrupção do Senado mas que na verdade ocorre a tantos anos quantos existe o Jornal Nacional? Quem não se lembra do Jornal Nacional mostrando a ação dos “fiscais do Sarney”, vendendo a idéia de que o pacote do cruzado “salvaria os destinos da nação”? Um embuste vendido no horário nobre, mas que repetido, enganou milhões por muito tempo. E o povo, certo de que a linguagem é a mera descrição dos fatos se engana. E se desconfiar, sempre haverá a repetição no dia seguinte, até que todos estejam convencidos de que o que não parecia  ser,  na verdade é. A imagem de Collor foi forjada como “caçador de marajás” no forno do jornal Nacional.  Quem não se lembra do uso feito da imagem e do extrato de uma fala de Lula no debate com Collor ou dos sequestradores de Abilio Diniz em 1989? Repetidas várias vezes no  período que antecedeu a eleição presidencial, foram determinantes no resultado. Collor ganhou, e abriu caminho para a privataria que FHC tratou de continuar, semeando desemprego e ampliando a fome no Brasil. E foram necessárias milhões de pessoas conversando com milhões de pessoas para desconstituir e destituir Collor que havia sido construído só a partir da linguagem da mídia, em especial da Globo, como caçador de marajás. E as novelas, com seu  merchandesing agressivo, formando modismos e atropelando culturas regionais, tentando superar e uniformizar o diferente e o singular. A nós povo, cabe aprender com filósofos como Austin e não ouvir frases lógicas e tê-las como verdade, mas analisar o ato da fala e do uso da linguagem num determinado contexto, com determinada finalidade e de acordo com certas normas e convenções e de quem as convencionou. Talvez assim a gente não se emocione tanto com a festa que a telinha tem mostrado durante o horário do fantástico para “comemorar” os 40 anos do noticiário mais manipulador montado durante o período militar e que a cada dia continua entrando nas casas dos brasileiros, contando apenas uma versão dos fatos, tentando fazê-los passar por verdade. Os quarenta anos do Jornal Nacional devem servir para uma reflexão sobre o estrago que o monopólio da mídia pode provocar em um povo como o nosso.


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