Outro dia publiquei aqui o texto do Juremir sobre o tema: Só a volta da ditadura nos salva do cqc e viva michel telo. Muito claro e contundente, ele provoca a intelectualidade tupiniquim a produzir com mais qualidade do que tem produzido. Michel Teló “pega” e a intelectualidade ” não pega ninguém”, diz o texto. Por outro lado, se o Teló “pega” este ano, o fato é que a cada ano parece ter uma moda que “pega”. Já foi o Tchan, a dança da garrafa, etc… Moda é o instrumento utilizado pelo poder para fortalecer a sociedade do consumo. Inventam-se novos produtos, efêmeros, ganha-se dinheiro e depois inventam-se outros produtos e… O tema é interessante para o debate. Não Teló e sua música de rimas pobres ou o BBB, mas as várias estratégias do poder e o que se pode ler nas entrelinhas das revistas e textos produzidos para vender este ou aquele ao grande público. . É claro que a produção musical e intelectual do país não vai melhorar só por causa disto, mas está na hora de começarmos a pensar para além do patamar que atingimos até aqui. Este já não é mais o tempo da contestação à ditadura militar, que tanto fez nossos músicos, poetas e intelectuais produzirem com uma qualidade extraordinária. A sociedade que temos hoje, democrática, com uma certa distribuição da riqueza, também tem razão de ser pelo engajamento da intelectualidade no combate a ditadura. Mas agora não se trata de combater. Se não há um inimigo explicitado como o é a ditadura militar, o inimigo se insinua por entre as linhas desta “cultura” vendida ao senso comum. Mas também não se trata de resignar. Se trata desenhar o futuro para além da dominação da classe que sofre pequenas derrotas, mas continua hegemônica na sociedade. A pauta do debate definitivamente não são os Teló’s, BBB’s e outras efemérides que a mídia tupiniquim, instrumento da burguesia nacional cria. A pauta é a questão da hegemonia. Vai o texto que pesquei do Correio do Brasil, para contribuir no debate.
Telo, BBB e os conceitos sobre cultura
Por Sylvio Micelli
Os assuntos mais discutidos na primeira semana de 2012, ao menos nas redes sociais (que hoje pautam muita coisa), versam sobre a capa da revista semanal Época com o cantor (?) Michel Teló e sobre o início de mais uma edição do Big Brother Brasil transmitido pela Rede Globo de Televisão. Por sinal, apenas para constar, Época e Globo pertencem à mesma organização.
O paranaense Teló foi parar na capa da publicação por ser o “cantor, compositor, multiinstrumentista” que mais tocou nas rádios em 2011. Sua música (?) “Ai Se Eu Te Pego” vendeu horrores. Ele fez centenas de shows, ganhou um bom dinheiro e a segunda revista semanal mais vendida do Brasil achou por bem colocá-lo na primeira capa do ano. Mais que isso: destinou 12 páginas, isso mesmo, 12 longas páginas, e o apresentou como a tradução de “valores da cultura popular para os brasileiros de todas as classes”. Teló está na dele. Não tem culpa nenhuma.
O Big Brother Brasil, por sua vez, completa 10 anos de transmissão e chega à sua 12ª edição. A temática é mesma de sempre, em que pese a produção do programa tentar dar uma reciclada. Trancafia pessoas dentro de uma casa. Elas deverão viver e conviver com as diferenças ao longo das semanas. O jogo vai se desenrolando. As máscaras caem e o mais forte, ou o mais popular, ou o que der mais retorno de mídia, sagra-se o campeão. Tem gente que fez carreira artística e até política no jogo.
Para o paredão
Vamos, enfim, aos fatos.
Inicialmente, fico numa enorme sinuca de bico. Porque se eu elevar Teló e o BBB à condição de “cultura” irei contra tudo aquilo que suponho ser cultura e estarei a nivelar, por baixo, o que efetivamente entendo que seja cultura. Se eu chamar o músico e atração global de subcultura, os patrulheiros de plantão (e eles sempre estão presentes) vão me chamar de preconceituoso, quiçá burguês, e de desrespeitar a cultura, que eles assim entendem, diversificada e multifacetada do meu país. Então sobram duas óticas: Teló e BBB são estratégias de marketing para ganhar dinheiro. E muito dinheiro. Simples assim.
No caso do cantor, você pega um rapaz do interior do Paraná, jovem e simpático, que cai no gosto de jovens iguais a ele. Cria uma música (?) de pouquíssimos versos e de letra paupérrima, põe uma pegajosa melodia e usa de todos os métodos para que isso vire um hit. O resultado é infalível. Não é a primeira vez que acontece e também (infelizmente) não será a última. O Brasil passará por Teló, como já passou pelo Tchan, Créu, dancinha da garrafa e tantas coisas efêmeras que depois apodrecem nos sebos da vida.
O BBB é a catarse humana em versão compacta. Da mesma forma que se coloca uma dúzia ou mais pessoas dentro de uma casa, para que se suportem – mas no fundo sendo todos inimigos e buscando o prêmio ou fama (ou ambos) – também em nosso dia a dia lidamos com diversas pessoas que adoraríamos mandar para o paredão (e vice-versa), mas que a santa hipocrisia social nos (os) impede.
Três questões
Há, ainda, uma outra ótica. Essa muito mais perigosa e é dela que devemos (ou deveríamos) nos reguardar. Teló e BBB são braços fortes da grande mídia, em busca da hegemonia na comunicação, como nos ensina o mestre Vito Giannotti do Núcleo Piratininga de Comunicação. Quando a Época decreta que Teló traduz “valores da cultura popular para os brasileiros de todas as classes”, ela quer dar hegemonia ao Brasil. Dizer que somos todos felizes como os smurfs e que a música de Teló, que faz sucesso com a doméstica e com o empresário, acaba por aproximar todos nós. Olha que lindo! Um país sem preconceitos, onde todos somos rigorosamente iguais.
Por outro lado, o BBB, que (lembrando) pertence ao mesmo grupo de Época, mostra que, sob confinamento, vence o mais forte ou o que cai no gosto da população. Dessa mesma população hegemônica que discutirá nas próximas semanas quem deve ir para o paredão e ficará a bisbilhotar se um novo casal é feito na casa (e, certamente, dois são desfeitos fora). Então, todas as terças à noite, o mercador de ilusões Pedro Bial, de forma histriônica, unirá um país de norte a sul porque todos estarão (assim eles querem que seja) interessados em descobrir quem se dará mal naquela semana.
Essa hegemonia, meus caros, é o nosso grande problema. O Brasil deveria buscar a discussão de assuntos de mais importância. Claro que devemos ter lazer. Claro que o lúdico, mesmo de gosto duvidoso, é importante. E aqui não reside nenhum preconceito da minha parte. É que a hegemonia faz com que boa parte dos cidadãos acredite que tratar de temas polêmicos não lhes pertence. Mas pertence, sim. Só nesta semana posso destacar três: as questões que envolvem o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a tentativa de abertura do Poder Judiciário, as chuvas que voltam sempre em janeiro (a natureza é perfeita) e o pouco que se fez desde a desgraça do ano anterior e as eleições de 2012 que chegam logo, e há muito que mudar.
Conceitos de cultura
Enquanto deveríamos gastar nosso tempo com isso, e reitero que não se trata de discussão de elites, a mídia hegemônica nos impõe coisas “desimportantes”. E isso também não é novidade. É o “velho e bom” panis et circenses com que a Roma Antiga brindava seu povo. A única diferença é que os gladiadores de hoje não derramam uma gota de sangue sequer.
Ao final de tudo, mantenho a esperança de que dias melhores virão. Sempre acredito que o Brasil, enquanto sociedade, ainda é novo e devemos passar por tudo isso para que possamos amadurecer e chegar, um dia, aos conceitos de cultura de países nem tão longínquos daqui como a Argentina ou o Chile.
Já estaria feliz.
Sylvio Micelli é jornalista
Fonte: Observatório da Imprensa
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Ia muito bem a análise, mas perdeu-se no final. Quando apresenta o problema o autor responsabiliza a grande mídia, que tenta e consegue, de norte a sul, a hegemonia. Quando propõe a solução, pretende que ela venha do “Brasil”. É como pregar a uma boiada confinada, vamos, revoltem-se, produzam seu próprio alimento.
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Meu caro Antônio
Eu e tu sabemos que o problema não esta na “boiada”. Aliás, a boiada esta confinada pela idéia de que há cercas intransponíveis. As cercas na verdade nunca existiram. Mas falta alguém pra lhe dizer da inexistência da cerca. Trotski e Lenin há muito detectaram o problema. As condições objetivas, que são as mesmas que fazem o povo se emocionar com Teló, BBB, etc… estão dadas. Falta é a condição objetiva, da direção, de dar a condução revolucionária à permanente ansiedade e emotividade das massas. Pra ser mais exato, falta ao partido da classe trabalhadora traduzir e expressar para a classe trabalhadora, o que os dirigentes da burguesia sabem, mas não dizem para os seus seguidores.Tão simples, mas ao mesmo tempo tão complicado. A cada vez que um partido, uma direção dos trabalhadores, assume o comando, seja no ocidente, seja no oriente, como exemplo a China, a burguesia põe seus cães em ação e “embreta” aqueles dirigentes. O PC chinês implanta o capitalismo na China à custa da liberdade e da história milenar do povo chinês. Talvez, aqui no ocidente, este que mostrou ser possível outro caminho para o capitalismo, o PT, compreenda o seu papel revolucionário e sobrepuje as experiências já tidas. Vamos lá.
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Já eu discordo completamente do Antonio.
Acho que o texto ia mal até defender e apresentar o tema que também considero extremamente importante: O povo não discute o que é realmente importante para o país.
Mas acho que, em tempos em que todos tem acesso às redes sociais, a mídia pouco tem influência no que o povo vê ou deixa de ver.
Só para enfatizar, dois dos temas mais discutidos pela TV ultimamente (o maltrato ao cachorrinho pela enfermeira e o “estupro” no BBB) ganharam relevância na mídia formal (TV, radio e jornais) depois que a polvorosa de formou nas redes sociais.
Acho que não é a mídia, nem Michel Teló, nem o BBB que aliena o povo, mas sim o próprio povo que já está resignado com a situação do país e se sente incapaz (ou desinteressado) de mudar os rumos políticos do mesmo.
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