Quando se fala na construção de um mundo multipolar, longe da dominação imperial do Dólar, não se esta falando só de uma utopia distante, como é possível ler no sucinto e didático comentário do Professor Diego Pautasso, que reproduzo na íntegra a seguir:
As reservas da China em títulos do Tesouro dos EUA se aproximam de 800 bilhões de dólares. São valores próximos a 2009. Sinaliza uma tendência de queda sistemática desde 2012, quando alcançou mais de 1,3 trilhões. E isso representa muito.
Primeiro, é sabido que os EUA têm déficits estruturais, comerciais e orçamentários, de modo que a aquisição internacional desses títulos é decisiva para o país. E a China vinha sendo um dos financiadores desses déficits.
Ao passo que o dólar deixa de ser um ativo seguro, perde força sua condição de moeda global da hegemonia. A China tem buscado formas mais seguras e sofisticadas na gestão de reservas cambiais, incluindo a alocação de recursos para a Iniciativa do Cinturão e Rota. As crescentes dificuldades da economia dos EUA, combinadas com a hostilidade da Casa Branca com a China, podem acelerar essa tendência. E isso é mais um ingrediente do processo irreversível de desdolarização no mundo.
Lastrear as reservas da China em ativos e recursos naturais no exterior (petróleo), contribui para fortalecer sua projeção global. Enquanto isso, Washington segue uma política de desestabilização que justamente mina um pilar de sua hegemonia, o dólar.
*Diego Pautasso é Pós-Doutorado em Estudos Estratégicos Internacionais (2018), Doutor (2010) e Mestre (2006) em Ciência Política e Graduado (2003) em Geografia pela UFRGS. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais (UFRGS), do Centro de Estudos da América Latina e Caribe da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sudoeste (Sichuan/China) e da Especialização em Relações Internacionais (UFRGS-Comando Militar do Sul). Atualmente é professor de Geografia do Colégio Militar de Porto Alegre. É autor do livro “China e Rússia no Pós-Guerra Fria” e co-autor de “Teoria das Relações Internacionais: contribuições marxistas”.
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