política/Religião

Sobre Justiça, Fé, estado laico e a perigosa afirmação de Michelle Bolsonaro

A recente declaração de Michelle Bolsonaro, ao afirmar que “a justiça dos homens já não se sustenta, mas existe a justiça de Deus”, escancara uma confusão perigosa entre fé pessoal e o funcionamento das instituições de um Estado democrático.

A fé, por sua natureza, é questão de foro íntimo, pertencente ao espaço privado de cada indivíduo. Já a justiça estatal é regida pela Constituição Federal e pelas leis que garantem a convivência em sociedade. Misturar esses dois campos é negar o princípio fundamental da laicidade, que assegura que nenhuma religião deve ditar os rumos da vida pública.

A prisão preventiva de Jair Bolsonaro não é fruto de perseguição política, mas consequência direta de investigações que apontaram sua participação em uma tentativa de golpe contra a ordem democrática.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, estabelece que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Isso significa que ex-presidentes, parlamentares ou cidadãos comuns devem responder por seus atos quando atentam contra o Estado de Direito.

O Supremo Tribunal Federal e a Polícia Federal atuaram dentro dos limites constitucionais: houve investigação, coleta de provas e decisão fundamentada. A medida de prisão preventiva foi determinada para evitar risco de fuga e assegurar o andamento do processo. Não se trata de vingança ou perseguição, mas da aplicação da lei em sua forma mais clara e objetiva.

A tentativa de golpe liderada por Bolsonaro e seus cúmplices não pode ser relativizada. Atacar as instituições, insuflar a população contra o resultado das urnas e planejar a ruptura democrática são crimes gravíssimos. A responsabilização é necessária não apenas para punir os envolvidos, mas para proteger o futuro da democracia brasileira.

Ao contrário do que sugerem narrativas de vitimização, a prisão de Bolsonaro é um marco da força institucional do Brasil. Mostra que, apesar das pressões políticas e das paixões ideológicas, o país segue comprometido com a Constituição e com a igualdade perante a lei.

A frase de Michelle Bolsonaro, ao invocar uma “justiça divina” em contraposição à justiça humana, pode soar como consolo pessoal, mas não tem qualquer validade no debate público. O Brasil é um Estado laico, e sua justiça não se fundamenta em dogmas religiosos, mas em princípios constitucionais. A fé pode guiar escolhas individuais, mas não pode substituir o devido processo legal.

A prisão de Jair Bolsonaro é resultado da aplicação rigorosa da Constituição Federal e da defesa da democracia contra uma tentativa de golpe.

Não há perseguição política, mas sim responsabilização jurídica. A justiça dos homens, neste caso, é a única que importa para garantir que o Brasil continue sendo um Estado democrático de direito.

“Ai dos pastores(as) que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto, diz o Senhor” (Da Bíblia em Jeremias 23:1). Mas dispersar e dividir é justamente o que Bolsonaro e seus pastores e pastoras fazem, ao confundir política com Fé e religião. Por isto é tão perigosa esta visão expressa ontem por Michelle, mas expressada por Patores como Malafaia e outros divisionistas entre os cristãos.


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