
A aposentadoria da delegada Erika Marena, com proventos integrais, encerra formalmente uma trajetória marcada pela espetacularização e pelo trágico desfecho da Operação Ouvidos Moucos, que culminou no suicídio do reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, em 2017.
Marena, conhecida como a “mãe da Lava Jato”, não era uma figura fortuita. Sua escola de investigação foi forjada sob o manto do então juiz Sergio Moro, ainda no caso Banestado — operação que já apresentava traços de uma justiça seletiva e métodos que testavam os limites da legalidade.
Na UFSC, esse modelo atingiu seu ápice destrutivo: Cancellier foi preso, humilhado e banido do campus por uma suposta obstrução de justiça que, anos depois, revelou-se uma tese sem provas e baseada em depoimentos questionáveis.
No âmbito jurídico, a blindagem foi quase absoluta. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e as instâncias administrativas da Polícia Federal raramente avançam sobre o “erro de interpretação” dos seus agentes, tratando a destruição de reputações como um efeito colateral aceitável do combate à corrupção.
Marena retira-se sem nunca ter enfrentado uma punição à altura do dano causado, evidenciando um sistema falho que protege o distintivo em detrimento da vida.
Sob a gestão do presidente Lula, o Estado brasileiro iniciou um movimento de reparação histórica.
A imagem de Luiz Carlos Cancellier vem sendo resgatada não apenas como vítima de um excesso, mas como símbolo da resistência acadêmica contra o autoritarismo judicial.
A nomeação de prédios públicos e as homenagens oficiais buscam retirar o estigma de criminoso imposto pela “República de Curitiba”, devolvendo ao reitor a honra que lhe foi roubada em vida por um inquérito natimorto.
Todavia, a justiça não se completa apenas com homenagens aos mortos; ela exige a responsabilização dos vivos.
A expectativa é que, assim como ocorreu com figuras como Silvinei Vasques — que viu o poder e a impunidade desmoronarem sob o peso de investigações sérias —, o rastro deixado por Erika Marena não seja apagado pela aposentadoria.
O Estado de Direito exige que “erros” tão letais e métodos tão turvos sejam revisitados, garantindo que o repouso remunerado não se torne um salvo-conduto eterno para quem abusou do poder público.
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