Eleições 2022/Lula

Lula venceu, ganhou a Democracia (Por Paulo Timm)


Na mais acirrada disputa presidencial de todos os tempos, Lula, PT, foi declarado, no início da noite de ontem, 30 de outubro, vencedor da Eleição.

Imediatamente recebeu os cumprimentos dos Chefes dos Poderes da República, Presidente do Supremo, do Senado e da Câmara dos Deputados, além dos Presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França, E. Macron.

Uma multidão impressionante o saudou na capital paulista até de madrugada.

Em todo o país houve júbilo, sem incidentes

O concorrente, atual Presidente, foi dormir cedo. Derrotado. Seu sonho de grandeza autoritária, no qual arrastou a alta cúpula militar, sempre reticente quanto à superação crítica do regime de 64/85, ingênuos evangélicos e grande parte da classe média intoxicada pelo medo às mudanças, esboroou-se temporariamente.

Espera-se, doravante, que o conservadorismo reflua para o leito da coerência democrática de forma e permitir a reconstrução da unidade nacional.

O golpismo, enfim, volta para as páginas da História e abre caminho para o aprofundamento da democracia, pela qual tanto lutaram Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro e Leonel Brizola há 40 anos, revividos em personalidades atuais como Simone Tebet, Marina Silva e G. Boulos.

Lula ganhou em nome deles consagrando a importância de eleições diretas à Presidência da República como o melhor sendeiro de nossos destinos. Ele ganhou, porque encarnou e conduziu com competência a criação de um amplo arco de alianças, do PSOL ao MDB, passando por inúmeras siglas intermediárias, que acabou se impondo majoritariamente ao extremismo de direita.

Esta grande Frente Democrática enterrou as expectativas da Internacional de Extrema Direita, herdeira do nazi-fascismo, de fazer do Brasil sua sede.

Ele próprio, Lula, em seu primeiro pronunciamento, escrito, após a vitória, fez questão de reiterar: “Não foi o PT que ganhou, não foram os Partidos, foi a democracia e a liberdade que ganharam”.

Uma vitória não apenas contra Bolsonaro, mas contra uma espúrio acasalamento do oportunismo do que há de pior na Política Nacional – políticos do Centrão, líderes do financismo evangélico neopentecostal mais o saudosismo militarista – com a máquina governamental a serviço deles.

Mancomundados, estes pulhas deixam para trás um rombo de 200 bilhões de reais consumidos pelo Orçamento Secreto e Emendas Parlamentares, além da disseminação de bondades eleitorais desenfreadas sem qualquer projeto de seletividade e acompanhamento.

Ainda tentarão algum contragolpe, mas sem qualquer sustentação institucional. A “vontade”, como impulso autoritário no contato direto com as massas, com a qual contavam para contrariar a Lei, passou para o coração dos eleitores.

Persistirão, também, por algum tempo, manifestando sua intolerância pelo peso que conseguiram no Senado, na Câmara dos Deputados e importantes Estados como São Paulo, Minas e Rio de Janeiro.

Mas já não terão a cobertura de um Presidente da República “declassé” que, na planície perderá a capacidade de articular seus interesses, fazendo-se sempre de vítima.

Logo ele, que foi expulso do Exército por mau militar, que passou 27 anos na CÂMARA DOS DEPUTADOS “comendo gente” e enaltecendo títeres da ditadura, formando uma corporação familiar com ramificações sospechosas, combatendo as instituições seculares em benefício de um milenarismo de ocasião!

Em breve o bolsonarismo, ao contrário do trumpismo nos Estados Unidos, ter-se-á esfacelado em diversas lideranças, cada qual no seu puleiro em busca de notoriedade.

Bolsonaro já está só e de nada lhe adiantarão os medíocres filhos cujas carreiras políticas e negócios cresceram à sua sombra.

Sequer se pronunciou ontem. Continuará sua catilina antidemocrática contra as instituições, contra a Lei, contra a verdade histórica que já condenou suas ideias retrógradas e autoritárias à lixeira das narrativas.

Agora é enfrentar o futuro. Um futuro difícil, numa conjuntura internacional cada vez mais complexa, castigada pelos altos preços da energia e perspectiva de recessão em 2023, num contexto nacional povoado de divisões e feridas profundas.

Resta a esperança de um povo forte, incansável e amante da liberdade que ontem deu seu recado: quer avançar em direção a um país democraticamente igualitário, digno de reconhecimento internacional.

Paulo Timm

Este texto foi originalmente publicado na Rádio Comunitária Cultural FM da Cidade de Torres, da qual Paulo Timm participa.

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PAULO TIMM, aposentado, é economista, formado pela UFRGS. Pós-Graduado na ESCOLATINA, da Universidade do Chile e CEPAL/BNDES. Foi professor da Universidade de Brasília – UnB – e Técnico do IPEA, órgão do Ministério do Planejamento, em Brasília, onde residiu por 35 anos e onde fez sua vida profissional e pública.

Foi Presidente do Sindicato dos Economistas e do Conselho de Economia do Distrito Federal. Foi Diretor Técnico da Companhia de Desenvolvimento do Planalto – CODEPLAN, Secretario de Estado de Meio Ambiente do Governo do Distrito Federal e Administrador do Lago Sul de Brasília, na década de 1990 Foi também candidato ao Governo de Goiás, em 1982 e ao Governo do Distrito Federal, em 1994, pelo PDT, partido que fundou, ao lado de Leonel Brizola, em 1979, subscrevendo a histórica “Carta De Lisboa”. Tem dois livros publicados que expressam sua experiência profissional como Coordenador do Programa da Região Geoeconômica de Brasília, entre 1974 e 1980 (“Brasília, o Direito à Esperança”, 1990 – Ed. Brasília DF e “Brasilianas”, 1998 – Ed. Paralelo 15 DF).

Atualmente reside entre Passo de Torres e Torres e se dedica a pesquisas históricas e à literatura, com livros de Poesias, “Eternidade” pelo projeto Poesia de bolso e “Canto dos Olhos”, pronto para publicar. Pela Mottironi Editore já publicou as coletâneas de textos e ensaios “As Curvas do Mampituba” (2015), “Sul 21, sete anos de colunas” (2018) e “Devires e Derivas” (2019).

A Foto de Capa é de Ricardo Stuckert

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