Há um lampejo de jornalismo investigativo sobre os anos de chumbo que o país viveu, hoje, nas páginas de O Globo. O jornal traz uma reveladora entrevista com o general de pijama Luiz Eduardo Rocha Paiva, sob o título ‘Vamos chamar a presidente (para depor)?’, além de outras matérias, ‘Rubens Paiva foi torturado e não me entregou’ e “A longa busca por respostas de quem viu o horror”. Elas esclarecem episódios sobre a brutal morte que foi imposta ao deputado eleito pelo PTB.
Entre uma afirmação e outra, o general Rocha Paiva se faz de rogado, como se diz nas Minas Gerais. Ao ser questionado sobre se tinha conhecimento de que houvesse tortura no âmbito das Forças Armadas durante a ditadura, responde apenas que o assunto sempre foi alvo de conversas. E acrescenta: “Agora, quando é que não houve tortura no Brasil?”.
O fato é que ele sabe muito bem que torturavam e assassinavam friamente durante a ditadura. Tanto que Rocha Paiva faz até um cálculo de quantos sofreram com esta prática hedionda durante o que chama de “tempos de luta armada”. Usou para isso números dos arquivos do Superior Tribunal Federal, que indicariam 1.918 torturados. Nesse período, estima o militar, a média seria de “menos de um torturado por dia”. Para, em seguida, comentar: “Depois que sai o bolsa-ditadura, sobe para 20 mil torturados”. Seus cálculos levam em conta uma insólita média entre as duas fontes, para concluir que havia “quatro torturados por dia por conta da luta armada”.
Covardia
Sobre Rubens Paiva – deputado que, em 20 de janeiro de 1971, foi preso, espancado e consta da lista de 183 desaparecidos políticos listados pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos – o general apenas comenta: “O homem foi deputado, das classes favorecidas, e todos se preocupam com ele”. E ainda comete a covardia de insinuar que a autoria da morte sob tortura de Wladimir Herzog caberia a seus companheiros.
Uma coisa é certa. O que se passou nos porões da ditadura virá à tona. As testemunhas aparecem e a verdade ressurge. O general não escapará da Justiça. Ele e todos os que compactuaram com a ditadura e seus crimes. Podem até escapar de um julgamento justo – direito que Rubens Paiva e Wladimir Herzog não tiveram. Mas não escaparão da verdade, muito menos da justiça da história. A memória será, sim, resgatada.
O que o general teme são as testemunhas anônimas, como a carta da professora do Colégio Sion, Cecília Viveiros de Castro, que assistiu Rubens Paiva sendo torturado, e o recibo que prova que o carro do deputado estava em dependências do Exército enquanto era torturado. Rocha Paiva teme o resgate da verdade. Ele teme a Justiça.O
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Muitos dos criticos de hoje, labero as botas dos milicos no passado.
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