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O novo jovem trabalhador

Por João Ferrer, no SUL21

Esses dias, estava eu lá no boteco que frequento acompanhado de umas amigas e resolvi falar sobre uma apresentação do Instituto Data Popular sobre o jovem da nova classe média brasileira. Nossa! Levei pau! Como acontece nessas ocasiões, a discussão se alongou mais do que o necessário sobre o conceito de classe, que, claro, não era a intenção inicial da conversa. Mas, em boteco, como na vida, uma coisa puxa outra.

No outro dia, comprei o livro do Marcio Pochmann ‘Nova Classe Média? O trabalho na base da pirâmide social brasileira’, (Boitempo, 2012) e fui lá tentar identificar qual era, afinal, o problema da minha ingênua assertiva noturna. Sinteticamente, o autor, muito representativo do pensamento crítico contemporâneo, sustenta que a denominação classe média para os novos setores sociais que ingressaram no consumo de massa não é correta. Para ele, trata-se de uma nova classe trabalhadora ascendente. Diz: ”Seja pelo nível de rendimento, seja pelo tipo de ocupação, seja pelo perfil e atributos pessoais, o grosso da população emergente não se encaixa em critérios sérios e objetivos que possam ser claramente identificados como classe média. Associam-se, sim, às características gerais das classes populares, que, por elevar o rendimento, ampliam imediatamente o padrão de consumo. Não há, nesse sentido, qualquer novidade, pois se trata de um fenômeno comum, uma vez que trabalhador não poupa, e sim gasta tudo o que ganha.”

Bueno, feito o esclarecimento, sigamos. Sendo ou não classe média os setores sociais analisados pela sondagem do Instituto Data Popular, penso que as informações podem servir para orientar uma estratégia de comunicação eleitoral, já que revelam mais do que propriamente hábitos de consumo desse nicho populacional.

Fica-se sabendo no estudo, por exemplo, que dos jovens (15 a 24 anos) desse segmento (famílias que possuem uma renda média individual de R$ 688,00, na região sul), 62% estão trabalhando e, se considerarmos apenas a faixa que vai dos 19 aos 24 anos, possuem, em média, 10,7 anos de estudo, quase três anos a mais do que a média geral de seus pais. Se juntarmos as duas coisas, temos várias informações preciosas.

Na média, trabalham em setores melhor remunerados que seus progenitores e, por conta disso e pelo melhor nível de instrução, possuem condições de acesso muito maiores às novas tecnologias. Segundo a pesquisa, 58,4% deles têm computador e 61,5% possuem celulares, sendo que quase 8% já usam smart phones.

Esse jovem, mais instruído e mais independente, transformou-se em um introdutor de tecnologia na sua casa e tem uma renda que chega, na média, à metade da renda de seu pai. Essa nova situação, empoderou-o de tal forma que ele vem, paulatinamente, ocupando a posição ‘alfa’ na família, o cara que informa, influencia e forma a opinião de seus familiares.

Interessante, também, anotar que o novo jovem trabalhador possui um vínculo muito maior com seus familiares e amigos e valoriza como nunca as relações que estabelece em seu local de moradia, o que nos permite concluir que a sua rede de relacionamentos, mais do que o discurso de ‘estranhos’, é que faz a sua cabeça.

Os estrategistas de campanha devem dar especial atenção a esse novo personagem. Os caras estão com a auto-estima elevada e subindo, e aderentes ao que se pode chamar de ‘utopia da ascensão’. Essa utopia, entretanto, é muito mais pragmática e vinculada a padrões de consumo e qualidade dos serviços que lhe são disponibilizados. O jovem trabalhador aderiu ao discurso da vida melhor, mas ele não quer mudar de família, nem de classe, nem de estilo de vida. Ele quer é ser feliz e acredita que a felicidade pode ser algo tangível, que se realiza com um novo carro, com um salário melhor, com uma casa. Vejam bem: uma ideia de felicidade em tudo oposta às promessas redentoras que se costuma encontrar no discurso político tradicional.

Uma boa resenha sobre a pesquisa realizada pelo Data Popular pode ser encontrada aqui.

João Ferrer é jornalista, especialista em marketing eleitoral


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