Faço neste pequeno post as minhas primeiras considerações sobre a eleição em Porto Alegre, embora saiba que ainda temos uma importante eleição em Pelotas, que elegendo Marroni, junto com Rio Grande que elegeu Lindemeyer, e outras cidades, poderá dar novos ares de participação popular na metade sul, apoiada por Dilma e Lula com o Polo Naval e com o crecimento dele advindo.
O PT ganhou as eleições no Brasil e no RS. Os resultados estão assim descritos no sítio do PT/RS “O PT gaúcho totalizou 1 milhão, 446 mil, 655 votos, chegando a 72 prefeituras e elegendo 83 vice-prefeitos – 12 em chapa pura PT/PT e 73 coligado com outros partidos. Com este resultado, ao PT alcança o índice de crescimento proposto pelo Grupo de Trabalho Eleitoral como meta para 2012 de 20%. O PT passa de 61 prefeitos eleitos em 2008, para 72 em 2012. No Brasil não foi diferente. E os pronunciamentos de quem esta nesta lista de petistas vitoriosos são enfáticos em afirmar que as políticas sociais e desenvolvimentistas desenvolvidas pelo governo Lula e Dilma foram a base das suas vitórias. Para além disto, a política de alianças amplas mostra que também surte efeito nas vitórias. Somente 12 dos prefeitos eleitos no RS, o foram com chapa pura do PT. Então, parece ser evidente que uma política de alianças é fundamental para ganhar eleições. Mas como para o PT, ganhar eleições é, ou deveria ser, só um episódio de implementação do projeto que começamos a desenvolver no país, deveriamos ter também a clareza de que nosso projeto até aqui granjeou apoios fundamentais, inclusive nos partidos de centro e centro esquerda. O Brasil e a vida dos brasileiros continua mudando pra melhor. E por que esta mudando pra melhor, também parceiros eleitorais do PT na construção do Projeto maior, tiram proveito. Foi o que aconteceu com o Fortunati. Por mais que digam que o Orçamento Participativo não funciona…ele funciona. Por mais críticas que tenhamos a condução da estrutura de gestão do município, a população não vê assim. Aliás, estes instrumentos de participação popular que construímos em Porto Alegre e que foram e são referência para o Brasil e para o mundo, também o são outras forças partidárias do nosso leque de alianças. A derrota de Porto Alegre não tem nada a ver com o mensalão. Até por que, se o tal mensalão tivesse tanta influência assim, teriamos tido uma derrota fragorosa em nível nacional e estadual. Não foi assim. Esta derrota se deu em Porto Alegre. E no meu entendimento as razões são obvias: 1) Com 16 anos no poder, trouxemos parte significativa de nossas lideranças para o seio da estrutura institucional; 2) mesmo depois da perda da prefeitura, novas lideranças que surgiam no Orçamento Participativo e nos bairros, prontamente eram cooptados para trabalharem como assessores ou agregados deste ou daquele vereador, independente de corrente política; 3) por estas e outras razões, é sintomático que o PT sequer “tenha ficado sabendo” do ato que culminou com o “esvaziamento” do boneco da Coca e a dúbia nota do Governo, lançada de forma atrasada. O PT de Porto Alegre perdeu toda a sua relação com os movimentos sociais; 4)o PT parou de elaborar para a cidade, a partir do projeto nacional, e pelo contrário, continuou uma disputa fratricida entre correntes, revitalizada a época do advento do “mensalão”, com a tese da “refundação” partidária; A história de encarregou de mostrar que o PT, apesar do episódio, continuou se fortalecendo nacionalmente e inclusive regionalmente. Em 2010 conquistamos o Governo do Estado no 1º turno, mas a soma dos votos de Fogaça e Yeda em Porto Alegre já sinalizavam a possibilidade da derrota em 2012, já que a soma de ambos chegava a bem mais de 50% dos votos. 5) Parece que um discurso rançoso, a esquerda, mas sem nenhuma relação com o projeto nacional ainda insiste em permear o PT de Porto Alegre. E aí esta a crise de identidade. O PT a nível nacional marcha celere para a construção do “Estado do bem Estar Social”, tão difundido e até certo ponto implementado pela social democracia européia, até a sua adaptação ao neo liberalismo. O PT de Porto Alegre simplesmente ignorou que a chapa vencedora na fatídica eleição de 2004, propôs a continuidade com o famoso “manter o que está bom e melhorar o que precisa ser melhorado”. Esta é a terceira eleição sob a mesma lógica, e tanto aquela época, como agora, levada a efeito por nada mais nada menos que parceiros do nosso projeto a nível nacional. O povo de Porto Alegre, conciente ou inconcientemente, sabe quem é o verdadeiro adversário deste projeto. Em nenhuma outra cidade o PSDB e o DEM são tão mal votados como aqui. Aliás, o candidato do PSDB não se cansava de dizer que era a única e “verdadeira ” “oposição” ao Governo do PT. O povo lhe deu votos do tamanho que tem a oposição ao projeto nacional. 7) as tarefas de erradicação da pobreza e de outros programas sociais, que no governo Dilma, muito além de política compensatória, se transformam em política estratégica, tem tudo a ver com a ação municipal e é sobre ela que o PT deve debruçar o seu olhar e a sua elaboração local, por que é desta política que brota o eleitorado que tem dado cada vez mais votos ao PT no RS e no Brasil, por que esta vendo sua vida melhorar. 8) Ao retomar o debate do mensalão, ou ao questionar este ou aquele nome, como tendo mais ou menos densidade eleitoral para ganhar a eleição, perdemos a oportunidade de discutir por que não aliamos com outros parceiros, sócios do mesmo projeto nacional que fomos nós aliás, que construímos e somos nós que mantemos? 65% de votos no Fortunati e 2% de votos no candidato do PSDB demonstram de forma inequivoca que o povo de Porto Alegre esta satisfeito com a política local e nacional, e isto só seria percebido se de fato tivessemos inserção social e militante partidária elaborada coletivamente nos movimentos, e não somente sucursais de gabinetes .
Precisamos nos livrar rápido da crise de identidade. Nem a volta ao “PT da origens” nem a “Refundação”, que de quando em vez volta na fala de algum militante, mudará o rumo do projeto em curso em nível nacional, que já trancendeu há muito o próprio PT. Assim, aprendendo com a voz e as ações da nossa militância, que tem feito os acordos eleitorais locais necessários para o bom andamento do projeto nacional, voltemos a senda de vitórias também em Porto Alegre.
Por fim, isto não significa que não tenhamos que debater temas fundamentais, como a Reforma Política, feita por uma Constituinte Soberana e Exclusiva, para instituir o financiamento público de campanha, estabelecer o voto em lista e revigorar a política partidária no país, para além de episódios de caixa dois, que a mídia chama de mensalão. Mas esta é uma discussão que deve ser travada no âmbito do PT e pode e deve ser objeto de um amplo debate e formação da militância, para que não percamos a necessária bandeira da radicalização da democracia.
A radicalização da democracia, tão importante para que possamos, para além do “estado do bem estar social” fazer as demais reformas, como a política e a agrária, que o PT ainda deve ao país. Mas estas são tarefas nacionais. Não tem a ver com a eleição de Porto Alegre e sim com a compreensão de que para além da superação da pobreza e ainstalação do “país da nova classe média” que ainda esta em construção, é preciso ir além.
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