O assustador para a turma que aprendeu a ler a política só com os óculos do tradicionalismo da direita ou da esquerda, é que estes movimentos na verdade surgem sem o centro partidário. Este papo de que PSOL, PSTU, etc… são os puxadores do movimento é simplificar a discussão. O povo esta indo às ruas no mundo inteiro. E a lógica da mobilização é a de movimentos horizontalizados. Foi e é assim na tal revolução árabe. Até a derrubada de árvores numa praça de uma cidade pode virar razão para contestar o governo de um país. E os partidos tradicionais não entenderam isto ainda. Talvez por isto o PT, meu partido, não tenha ainda se pronunciado sobre este processo de mobilização das passagens que vem mobilizando multidões no Brasil. No meu entendimento aliás, esta faltando o PT, com sua militância social organizada neste movimentos. Foi assim, na década de 80, orientando reivindicações de movimentos sociais específicos, que o PT conseguiu mostrar o caminho da unidade com bandeiras políticas claras que unificavam os dispersos movimentos sociais. Assim derrubamos a ditadura e assim construimos a ainda jovem democracia brasileira. Não é diferente agora. É a luta de classes. E a juventude, por contestadora do status quo, sempre esteve do lado da classe trabalhadora, que com o PT construiu a sua embrionária consciência de classe. E assim a juventude, nós a época, pudemos aliar a nossa contestação às demandas da classe que precisa mudar o status quo. Esta faltando justamente esta consciência de classe, que só um partido pode ajudar a construir, para que os movimentos sociais que hoje são chamados de forma individual pelas redes sociais, aglutinam multidões, possam lutar não só por uma demanda específica como a das passagens, mas por um projeto de sociedade diferente deste que impõe o lucro contra o bem estar social. E se o PT não assume o seu papel de “concientizador”, alguém a qualquer momento poderá fazê-lo, até mesmo os partidos de direita ou a Igreja dos pastores da teologia da prosperidade. E não venham dizer que aquela massa de mais de 15 mil pessoas em SP e as milhares em outras tantas são do PSOL ou do PSTU, por que não são. E muito menos são tucanas. Governos são governos e requerem governabilidade.Já aos partidos cabe convencer aos que protestam, que tal ou qual ideologia e projeto de sociedade é melhor. O problema é quando não há projetos antagônicos de sociedade. A burguesia tem o projeto dela e deste faz parte o Estado como protetor da iniciativa privada, da moral e dos bons costumes. Teria por acaso a classe trabalhadora inconscientemente adotado esta ideologia da classe dominante? Ou não seria a falta de uma direção clara, que ajudasse a classe trabalhadora a abrir os olhos e enxergar o que de fato significa o Estado da propriedade privada e seus métodos de impor os bons costumes, a segregam e lhe suprimem direitos? Pra poder convencer é preciso estar nos movimentos. Quem vê e tenta intervir de fora, o faz pela violência, como o faz a ação policialesca do estado, ou então há intervir, conviver e convencer do contrário.

Comentário Publicado no Blog da Cidadania, para o Artigo do Eduardo Guimarães, O Ponto Final nas Manifestações contra o preço das passagens