Rio Grande do Sul

Como se produziu a traição farroupilha em Porongos (Por Juremir Machado)

Como se produziu a traição farroupilha em Porongos.
Eis o texto de acusação do tenente Caldeira: “Vou relatar-lhe detalhadamente aquela hecatombe como foi. Canabarro, de combinação com Caxias e Moringue, deu entrada a Moringue em seu acampamento, para derrotar a força comandada pelo General Neto, menos a do General João Antônio da Silveira que estava acampada em lugar que ficou livre do ataque. Francisco Pedro, na véspera do ataque, acampou nos fundos do potreiro da estância da Dona Manoela, irmã do General Neto, sobre a margem esquerda dum galho de arroio Candiotinha que recebe águas da serra da Veleda. Um peão da dita estância foi recolher animais no campo e falou com os cavalariços que cuidavam a cavalaria da força que estava acampada e por eles soube que era Moringue que ali estava. Dona Manoela sabia que Canabarro estava acampado nos Porongos e mandou chamar o velho Pereira que morava no Candiotinha, o qual atendeu ao seu chamado e pediu-lhe para ir ao acampamento do Canabarro dizer ao seu irmão que Moringue estava acampado no referido lugar. Pereira foi à casa mudar de cavalo e roupa e depois marchou para o acampamento e deu o recado a Neto, que sua irmã lhe mandava. Neto depois de ouvi-lo disse: ‘Vá dar a mesma notícia a Canabarro’. Pereira foi à barraca de Canabarro e, aproximando-se respeitosamente a ele, transmitiu-lhe a referida notícia. Canabarro perguntou a Pereira: ‘Você viu o Moringue?’ Pereira respondeu negativamente. Canabarro: “E então, como é que diz que é o Moringue?”
“Pereira disse como sabia. Canabarro: ‘Você não está mentindo?’ Pereira era homem sério e ficou desapontado. Canabarro perguntou-lhe de que lado era o vento. Pereira disse de que lado estava, então Canabarro disse: ‘O Moringue sentindo a minha catinga aqui não vem. Marche para a sua casa e não ande espalhando esta notícia aterradora aqui no acampamento’. Canabarro deu ordem para chegar a cavalhada da reserva à frente do acampamento, para mudarem de cavalos (os cavalos chegaram porém não foram pegos). Também deu ordem ao quartel-mestre para recolher o cartuchame da infantaria e carregasse em cargueiros porque estavam se estragando nas patronas; para serem distribuídos quando aparecesse inimigo. Neto estava acampado em mau lugar, por isso mudou de acampamento depois que teve aviso de sua irmã. Os artilheiros estavam acampados no lombo de uma estreita coxilha que está situada entre o arroio dos Porongos e uma vertente que nasce no cerro do mesmo nome”. Antes de Canabarro acampar nos Porongos, mandou pôr as duas peças que tinha em um lagoão que está no fundo do campo de João Lucas de Oliveira, sobre a margem direita do Candiota Grande, pouco acima da barra do arroio do Tigre. João Antônio estava acampado à margem esquerda do arroio dos Porongos em bom campo. A infantaria desarmada estava na margem direita do dito arroio. Na retaguarda da barraca de Canabarro tinha um passo que por ele passava-se para o acampamento de João Antônio”.
“Moringue marchou do Candiotinha pelas quatro horas da tarde, mais ou menos, lançando fogo no campo e na noite daquele dia estendeu a cavalaria em linha na frente do acampamento de Canabarro e mandou tocar a alvorada e, antes de mandar um esquadrão de cavalaria entrar pela retaguarda da infeliz infantaria, deu ordem que não matassem os brancos e sim os mulatos, negros e índios. Canabarro, ouvindo o toque de alvorada, montou a cavalo com o seu Estado-maior e passou o arroio do dito passo e apresentou-se à frente da força de João Antônio, o qual estava furioso por ver a matança que o inimigo fazia em seus companheiros de armas sem socorrê-los por Canabarro não consentir”.

Juremir

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