“O que está em jogo é civilização ou barbárie e quando a gente fala de barbárie, falamos de agressão às mulheres, aos negros, LGBTs, ao meio ambiente e à liberdade das pessoas”, alertou deputado estadual do Rio de Janeiro e ex-ministro

Em entrevista exclusiva ao programa Fórum 4h20, o ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc falou sobre os retrocessos que podem ocorrer em relação às políticas ambientais em um eventual governo de Jair Bolsonaro (PSC). O programa do candidato traz apenas uma única vez a expressão “meio ambiente”, na seção sobre o “novo modelo institucional da Agricultura” (pág. 68), como “meio ambiente rural”.
Minc publicou nesta semana, junto com outros ex-ministros do Meio Ambiente, entre eles, Marina Silva, uma carta intitulada “Não podemos desembarcar do mundo”, em que denuncia os riscos de propostas anunciadas pelo militar da reserva. Uma delas seria o fim do Ministério do Meio Ambiente. Nesta semana, ele parece ter recuado da proposta: “Está tendo um atrito agora, sobre se funde ou não o Ministério da Agricultura com o Meio Ambiente. Da minha parte, estou pronto para negociar. Eu falei para o pessoal do agronegócio que isso era importante e eles concordaram. Alguns, agora, estão discordando”, afirmou o presidenciável”.
Para Minc, reeleito deputado estadual pelo PSB, no Rio de Janeiro, esvaziar o ministério seria muito complicado no Brasil. “Com todo o licenciamento ambiental, a gente já teve uma tragédia como Mariana, que até hoje não foi reconstituída e as famílias não foram indenizadas”, alertou. “A fusão dos ministérios seria subordinar o meio ambiente à bancada ruralista, liquidar o licenciamento ambiental e abrir caminho para os agrotóxicos, sem a participação da Anvisa no controle”, destacou. Confira os principais trechos da entrevista e assista na íntegra aqui.
Saída do Acordo de Paris
Vai ser isolar o Brasil do mundo, isso significa que vai aumentar o desmatamento. Hoje nós já temos até aumento da seca por causa das mudanças climáticas no semiárido e no nordeste, e falta de água, que no sudeste e em outras áreas, fazem você pagar uma tarifa mais cara. Sair do acordo significa prejudicar nossa economia, os produtos da agricultura e acelerar a crise hídrica, portanto é algo impensável e, o pior, põe em risco a nossa biodiversidade. O Brasil é um país megabiodiverso, essa biodiversidade está ameaçada, nós somos signatários de vários tratados internacionais com um ambiente comandado por ruralistas, a primeira coisa que vão aprovar é a lei do abate, a segunda é a do agrotóxico e a terceira será diminuir terra indígena.
Os riscos são muito grandes, neste caso não só à biodiversidade, mas à própria democracia. Uma pessoa que tem uma dificuldade de conviver com o contraditório, com a diferença, é profundamente autoritária. Ele não só quer acabar com tais conquistas ambientais como quer impedir que as pessoas protestem contra isso. Ele já disse que os opositores vão jogar xadrez na prisão ou vamos exilar. Não tenho medo disso porque eu conheci a ditadura, tudo isso que ele está ameaçando eu já sofri e estou aqui.
Há 50 anos não existia lei ambiental, não existia Ministério do Meio Ambiente, as empresas não tinham diretorias especializadas em questões ambientais, como hoje. Meio ambiente era considerado um obstáculo a ser transposto, não se via um valor ao meio ambiente. O meio ambiente não é um luxo dos ambientalistas é a proteção das nossas águas, eu pergunto à bancada ruralista: como é que vai haver agricultura sem fertilidade do solo?
Ódio, intolerância e recente ataque a equipes do Ibama e ICMBio
Quando eu era ministro houve uma cena igualzinha a essa no ano 2000. Eu no mesmo dia falei com o ministro da Defesa Nelson Jobim e fomos em 1200 pessoas do exército, do Ibama e da Aeronáutica. Cercamos aquilo tudo e havia filme dos vereadores de Paragominas, distribuindo galões de gasolina para o povo queimar o Ibama, como fizeram agora em Rondônia e eram em áreas ilegais. Todos eles foram presos, tudo foi desmontado e a gente deu uma lição exemplar, tanto é que Paragominas mudou, o prefeito assumiu compromissos, nós demos a madeira apreendida para construir escolas, pontes, casas e começou um ciclo diferente. A gente nunca admitiu, falei na época com o presidente Lula, se deixarmos isso acontecer, acaba a fiscalização.
Drogas, criminalização da homofobia e aborto
Em todas essas pautas vai haver alguma mudança caso Bolsonaro ganhe, o retrocesso será realmente imenso, muito forte mesmo. Não é só o mestre Moa de Salvador que foi assassinado, o quadro está terrível. As pessoas já estão com medo, ele dissemina esse medo, coloca as pessoas nessa rota do confronto e depois diz que não tem nada a ver com isso, mas como ele não tem responsabilidade se o seu discurso é ódio de manhã, de tarde e de noite? O que está em jogo é civilização ou barbárie e quando a gente fala de barbárie, falamos de agressão às mulheres, aos negros, LGBTs, ao meio ambiente e à liberdade das pessoas. Uma pessoa capaz de ameaçar prender e exilar quem se opõe, não aceita o contraditório, isso já é voltar cem anos atrás e acabar com a democracia.
Descubra mais sobre Luíz Müller Blog
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.