CINEMA/Cultura

Sinopse: “Nise – O Coração da Loucura” (Por Sérgio Lima de Oliveira)

NISEO filme, ‘Nise – O Coração da Loucura’ conta a história real de uma das mais importantes mulheres brasileira. Sua atuação revolucionária, através de um método baseado no afeto e na utilização da arte como terapia, com os internos do manicômio de Engenho de Dentro – Centro Psiquiátrico Nacional, renomado Hospital Pedro II, nos anos 1944. Este é o período da vida de Nise da Silveira (1905-1999) que o filme retrata. Recorte, mais que evidente, para comprovar a relevância da personagem. 

O diretor, Roberto Berliner (o mesmo de ‘A Pessoa É Para o Que Nasce, 2003) e toda sua equipe, conseguiram transformar o início da carreira de Nise da Silveira (vivida por Glória Pires) em uma história inspiradora e tocante. Transpondo para tela a atenção, a sensibilidade e o respeito ao ser humano que Nise demostrava aos seus pacientes (‘clientes’, como ela costumava tratá-los). Glória Pires se destaca pelo apuro e sutileza, num dos momentos mais relevantes da vida de Nise, sabendo transmitir todo sentimento de doçura e força, quando confrontada com seus colegas de trabalho.

Nise da Silveira, nasceu em Maceió, esteve entre as primeiras mulheres que se formaram em medicina no Brasil. Foi a única mulher a concluir o curso, na turma de 1926, da Faculdade de Medicina da Bahia.  Esteve presa, no fim dos anos 1930, por motivos políticos, juntamente com outro importante brasileiro, o romancista, Graciliano Ramos, que retratou esse momento nas brilhantes páginas de sua obra, “Memórias do Cárcere”. 
Ela, no anos de 1933, residindo na cidade do Rio de Janeiro, com 27 anos de idade, inicia o que seria sua forma de atuar na luta contra o tratamento desumano aplicado aos internos nos manicômios (verdadeiros ‘lixos humanos’, e ‘local de torturas’), uso da Lobotomia (técnica que consistia em separar os lobos frontais do tálamo, no cérebro), e, da Eletro-Convulso Terapia – ECT). Para se ter ideia, a Lobotomia chegou a ser aplicada em massa em pacientes psiquiátricos, utilizando-se de um picador de gelo como ferramenta. Essa técnica, abominável, ganhou imensa popularidade no EUA, onde fez mais de 50 mil vítimas, usada como ferramenta política, em punição às pessoas com comportamentos sociais indesejáveis. Quem há de esquecer do clássico, “Um Estranho do Ninho”, estrelado por Jack Nicholson. Uma das mais emblemáticas denúncias dos manicômios na história do cinema, lançado em 1975. 
O filme mostra, também, as cartas dela, trocadas com Jung.
Discípula do suiço Carl G. Jung (1875-1961, criador da psicologia analítica), Nise, buscou por meio da escultura, da pintura tratar a questão da psicose e a linguagem, enxergando como um caminho para expressão do inconsciente. Introduziu, também, a adoção de cachorros, ajudando, assim, a restabelecer vínculos afetivos de seus pacientes. No que obteve incríveis avanços, vale salientar. Visto que todos apresentavam quadros psicóticos graves.
Outro detalhe da obra é o encontro dela com Mário Pedrosa, consagrado crítico de arte, tornou-se um entusiasta e divulgador do trabalho dos internos.  Há uma cena com um diálogo entre ele o paciente Emygdio de Barros, que chegou a seguir carreira relevante de pintor, com participação na Bienal de Veneza. 
Pedrosa, diz: “você é um dos maiores pintores do Brasil”. Emygdio retruca: “eu não sou pintor, sou operário. Mas, enquanto eu estou aqui, vou pintando”.  
O filme ressalta, claramente, a integridade de caráter e a persistência da Dra. Nise, frente as dificuldades enfrentadas, seja, por preconceito dos outros colegas médicos, ou, por desacreditarem dos seus métodos e, até um certo grau de misoginia, por partes de alguns outros, ao tentar desqualificar suas capacidades profissionais. 
Numa sociedade que banaliza a vida, incentiva a violência, ela decidiu pela recuperação dos rejeitados pela sociedade. Disse ela: “nós estamos pretendendo a recuperação de homens considerados farrapos, para uma vida socialmente útil e, talvez, mais rica que a vida anterior que eles levavam”. Continua ela: “penso como Antonin Artaud (1895-1948, poeta, teatrólogo e dramaturgo francês). “Há dez mil modos de ocupar-se da vida e de pertencer a sua época”. 
Nise da Silveira soube como ninguém deixar sua marca na história; levando com esse filme, nossos corações ao delírio.
Não Perca!
Elenco:
Dra. Nise da Silveira, médica (Glória Pires)
Dr. César, médico (Michel Bercovitch)
Dr. João, médico (Zécarlos Machado)
Dr. Almir, médico (Felipe Rocha) 
Marta, estudante de artes plásticas (Georgina Góes)
Mário Pedrosa, crítico de arte (Charles Fricks)
Adelina Gomes, paciente (Simone Mazzer)
Carlos Pertius, paciente (Júlio Adrião)
Emygdio de Barros, paciente (Claudio Jaborandy)
Fernando, paciente (Fabrício Boliveira)
Lúcio Noeman, paciente (Roney Villela)
Octávio Inácio, paciente (Flávio Bauraqui)
Raphael Domingues, paciente (Bernardo Marinho)
Lima, enfermeiro (Augusto Madeira)
Ivone, enfermeira (Roberta Rodrigues)
Direção:
Roberto Berliner (“Herbert de Perto”, 2008; “A Pessoa É Para o Que Nasce”, 2003)
Roteiro:
Roberto Berliner; Herbert de Perto; Maurício Lissovski, Maria Camargo, Leonardo Rocha e Chris Alcazar.
Fotografia:
Andre Horta  ( “2 Filhos de Francisco”, 2005)
Editores:
Pedro Bronz
Leonardo Domingues
Trilha Sonora:
Jacques Morelembaum, musicado por acordes desse instrumentista de formação sólida, imprime com sua trilha belos momentos de sublime comoção face as sutilezas das cenas com os pacientes enclausurados pela “loucura”. 
Prêmios:
Melhor Atriz Oficial do Festival de Tóquio, em 2015 – Glória Pires
Gênero:
Drama
Curiosidades:
– A enfermeira Ivone (Roberta Rodrigues) aquela mais próxima de Nise, tornou-se, anos depois, importante nome no cenário do samba nacional, Dona Ivone Lara.
– O filme foi rodado em uma ala do antigo Hospital Pedro II, atual Hospital Psiquiátrico Nise da Silveira, durou 4 meses. Ali, equipe de produção e o elenco conviveram com médicos, enfermeiros e pacientes. Mergulhados no cotidiano com toda carga emocional do ambiente, ajudando aos atores como compor seus personagens.
– O filme foi exibido no Festival de Cinema de Punta del Este, de 2016, no Uruguai; foi exibido e premiado nos festivais do Rio e de Tóquio de 2015. Prêmio  do Júri popular no Festival de Cinema Latino de d’Épernay (França);
– A produção do ateliê do STOR conta com mais de 360 mil obras, a maior coleção do mundo desse tipo de arte. Coleção tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Sendo a coleção da Dra. Nise tombada como Memória do Mundo pela UNESCO.
– O Trabalho de Nise da Silveira, reforma a psiquiátrica, foi reconhecido internacionalmente, como trabalho de reabilitação psicossocial.
– “Imagens do Inconsciente”, documentário, realizado entre 1983 e 1986, que conta com o roteiro da própria médica Dra. Nise, acaba de sair em DVD. Dirigido por Leon Hirszman. Registra imagens dos pacientes: Adelina e Carlos, entre outros.
– As obras principais dos pacientes encontram-se expostas no Museu de Imagens do Inconsciente, criado em 1952.
– Por ocasião do II Congresso Internacional de Psicologia, em Zurique; Suiça – em 1957, as obras do Museu de Imagens do Inconsciente foram apresentadas, contando com a presença da Dra. Nise da Silveira. 
A exposição foi aberta por C.G. Jung, na manhã de 02 de setembro de 1957. Ele visitou toda exposição, detendo-se particularmente na sala onde se encontravam as mandalas, fazendo sobre o assunto comentários e interpretações.
– O Museu de Imagens do Inconsciente fica no Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira (antigo Centro Psiquiátrico Pedro II) – Rua Ramiro Magalhães 521 – Engenho de Dentro – Rio de Janeiro – RJ 
(55 21) 31117471

http://www.museuimagensdoinconsciente.org.br/index.html

Sérginho Sérgio Lima de Oliveira (Sérginho), que segundo ele próprio se auto define : “Amante do Cinema e deixa qualquer coisa por um bom filme. Aprecia também filosofia. E a convite, resolveu escrever sobre cinema para o Luiz Müller Blog”. A coluna será publicada todas as sextas-feiras no blog.

3 pensamentos sobre “Sinopse: “Nise – O Coração da Loucura” (Por Sérgio Lima de Oliveira)

  1. Pingback: Sinopse: “Nise – O Coração da Loucura” (Por Sérgio Lima de Oliveira) — Luíz Müller Blog | O LADO ESCURO DA LUA

  2. SURPREENDENTES DESCOBERTAS, MAIS UMA, DE TALENTOS BRASILEIROS, RICAMENTE INTERPRETADA POR ELENCO E EQUIPE MARAVILHOSOS, SOBRETUDO A DEDICAÇÃO DA DRA. NISE DA SILVEIRA. SEM DÚVIDA, ME REMETE A PESQUISAR SOBRE ESTA BELA E REAL HISTÓRIA DE VIDAS POR VIDAS. LAMENTÁVEL, QUE NOSSO SISTEMA FALIDO DE GOVERNO, DEIXE AO ABANDONO SABE-SE LÁ, QUANTOS TALENTOS INCRÍVEIS, QUE PARTEM DESSA VIDA, SEM PODER REALIZAR MISSÕES TÃO IMPORTANTES. DRA. NISE RETRATOU EM VIDA, O MAIS IMPORTANTE COMPONENTE AUSENTE NA ESCALA MORAL HUMANA: O AMOR, DENUNCIANDO E NOS CONSCIENTIZANDO DAS BARBARIDADES COMETIDAS PELA MEDICINA PSIQUIÁTRICA. MAIS UM DESMANDO A SER INVESTIGADO. DONA IVONE DE LARA, OUTRA BOA SURPESA! OBRIGADA.

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