Ao Protocolar Projeto de Lei para reconhecer o líder quilombola, Manoel Padeiro, como o primeiro herói negro rio-grandense, a Jovem Deputada Laura Sito do PT destaca que “o reconhecimento de Manoel Padeiro como um herói gaúcho é uma forma de recontar a história do nosso estado por outra perspectiva, incluindo o protagonismo dos homens e das mulheres negras.“
E quem foi Manoel Padeiro?
Manuel Padeiro foi escravo de Boaventura Rodrigues Barcelos (1776-1855), poderoso fazendeiro. Note-se, pelo nome, que ele se identificava mais com seu ofício (há registros que anotam “Manuel Pedreiro”) em vez do sobrenome do patrão (em toda a América e o Caribe, os submetidos adotaram “filiação” portuguesa, espanhola, inglesa ou francesa). Em todo caso, tal nome não podia soar mais português, tanto pelo prenome como pelo ofício. À direita, escultura de Manoel Padeiro, feita por José Inácio Santos do Nascimento (blogue Sopapo do Padeiro), o Zezinho Santos.
Acredita-se que o líder africano tenha nascido na Costa do Ouro, de onde provinham muitos escravos. Transformou-se num Zumbi dos Pampas, formando grupos de resistência contra a escravidão, a 30 km do centro econômico de Pelotas. Os capitães-do-mato desistiam da caçada humana dos “fujões” ao adentrar a chamada Serra dos Tapes, terreno montanhoso compartilhado com os índios. Formou-se uma série de quilombos desde 1834, e o maior deles ficou conhecido pelo nome de seu líder, Manuel Padeiro, “considerado pelos seus o enviado de Oxalá” (citação do artigo de 2010 Remanescentes de quilombos pelotenses: paradigma emergente, dignidade humana e propriedade, dos autores Henning, Linhares, Gomes e Leal). Nesses redutos havia mulheres, mas a maioria eram homens (80% ou mais).
Como na região de Pelotas a população negra era muito mais numerosa que a branca, a hipótese de uma revolta em massa gerava muito medo nos fazendeiros e nas autoridades políticas, pois seria o fim do sistema escravagista. Os líderes negros eram vistos como criminosos, os escravos como perigosos e muitas vezes a rebeldia se transformava em uma espécie de guerrilha, com assaltos organizados, raptos, incêndios e assassinatos. Com a Revolução Farroupilha, iniciada em 1835, os senhores desviaram recursos para lutar entre eles, e muitos escravos fugiram. Pelotas era uma espécie de barril de pólvora prestes a explodir. A tensão relacionada com a rebeldia dos escravos se mantinha graças à comunicação solidária entre senzalas e quilombos. A informação provém do artigo de 2007 Pelotas na primeira metade do século XIX: uma cidade que a historiografia rotulou ou esqueceu, do historiador Caiuá Cardoso Al-Alam.
O trabalho citado acima (de Henning, Linhares, Gomes e Leal) conta que o término da Revolução Farroupilha, em 1845, possibilitou ao governo enviar militares ao quilombo de Manuel Padeiro, onde se estimava de 600 a 800 habitantes (“Memórias da Escravidão”, Zênia de León, 1991). Em 1848, o Segundo Regimento de Cavalaria de São Leopoldo, composto de alemães voluntários, mais a guarda nacional e uma milícia local destruíram o quilombo, dizimando a população. A morte de Manuel Padeiro teria ocorrido naqueles dias. Hoje restam grupos quilombolas na região, estudados por pesquisadores, principalmente da UFPel.
Extrato de artigo Manoel Padeiro, Lider Quilombola – Pelotas Cultural
Em sua justificativa para o projeto, a deputada destaca que o Rio Grande do Sul ainda não incluiu nenhuma liderança negra entre os heróis e heroínas oficiais do Estado.
Lauta destaca ainda que a iniciativa tem o objetivo, por meio de diálogo com a Secretaria Estadual de Educação, de incluir os nomes de Manoel Padeiro, Preta Roza, Oliveira Silveira, Lanceiros Negros e outras figuras importantes para a construção da história e identidade dos gaúchos no ensino da história e cultura afro-brasileira em diferentes níveis de educação.
A parlamentar destaca que a lei federal 10.639 estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira.
Neste sentido, ela destaca que o reconhecimento de Manoel Padeiro como um herói gaúcho é uma forma de recontar a história do nosso estado por outra perspectiva, incluindo o protagonismo dos homens e das mulheres negras.
“Nosso povo é de luta, nosso Estado tem heróis e heroínas que construíram caminhos em busca da liberdade. Os ancestrais resistiram e nós continuamos resistindo para evidenciar que pessoas negras fizeram e, ainda, fazem parte da história do Rio Grande do Sul, e nós pretendemos contar todas elas”, diz Laura Sito.
Com Informações do SUL 21
Ótima notícia! Porém, especificamente sobre o texto, sugiro algumas revisões conceituais. Trocar escravo por escravizado, pois o 1° termo naturaliza a escravidão como uma condição e o 2° foca no processo de escravização. Substituir índio por povos indígenas que é a expressão escolhida pelos próprios povos originários na atualidade: “índio” foi a denominação criada pelo colonizador. E por último, mas não menos importante, o conflito conhecido como guerra farroupilha não foi uma revolução, mas uma revolta pois não pretendia realizar mudanças na estrutura social da província.
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Tuas criticas ao texto são corretas, porém como ele esta contido em citações para as quais postei inclusive o link, não cabe a mim mudar.
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Então, sugiro revisão das citações indiretas, pois em várias passagens a autoria parece ser tua (por ex.: na primeira linha). Grata pela atenção.
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Excelente darmos visibilidade de tudo que aconteceu…chegamos a dizer que a verdadeira história vai descontruir tudo que foi criado pelos exploradores criminosos que aqui chegaram…
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