Muitos tem falado sobre a necessidade do que chama de uma “porta de saída” para os beneficiários do Bolsa Família. Se referem a necessidade destas pessoas terem uma inserção produtiva na sociedade. Há que se considerar porém, que o valor pago pelo Bolsa Família (R$ 38,00 por filho, até o limite de 5) não sustenta famílias. Então, parcela significativa destes(as) beneficiários(as) está inserido em um mercado informal, fazendo bicos. Estes bicos, por incertos e sem horário fixo, acabam impedindo estas pessoas de acessarem cursos de capacitação, que poderiam lhes dar uma empregabilidade formal com todos os direitos que a legislação garante para os “formais”, seja os de Carteira assinada, seja os que se registram como autônomos ou MEI. Há ainda que se
considerar que parcela significativa dos beneficiários do Bolsa Família são mulheres e que na maioria dos casos são também ”chefes de família”. Além dos “bicos” que tem que fazer como provedoras da sua família, estas mulheres tem filhos para cuidar. A Sociedade e a opinião pública os querem se dirigindo para a “porta de saída”. Esta porta, aliás, esta bem próxima, já que em muitos setores da economia, como na Construção Civil, asseio e conservação, supermercados e outras, há possibilidade de empregabilidade imediata para esta população que invariavelmente tem baixa escolaridade. O que separa estas pessoas da porta, muitas vezes parece ser apenas um curso de capacitação profissional que pode ser ministrado em 200 horas aula. Parece simples, mas temos que levar em conta a necessidade imediata que estas pessoas tem (prover a família e cuidar dos filhos). Assim a solução não passa só pelo oferecimento de cursos através do Sistema S, como é o caso do PRONATEC, ou outras possibilidades de qualificação oferecidas através de cursos do MTE. Há que se construir uma rede de acompanhamento para estes
beneficiários dos programas sociais do governo. Assim, além da oferta do Curso em si, é preciso que as prefeituras, através da Assistência Social, façam um processo de sensibilização dos beneficiários, sobre a vantagem desta “alteração de status” entre o mundo da sobrevivência e do imediato, e o mundo do trabalho organizado, formal e da acumulação. Esta sensibilização pode ser feita durante a aferição das condicionalidades, por exemplo do Bolsa Família. E é melhor que seja coletiva e rápida, já que a sensibilização individual leva tempo e o período necessário para constituir turmas para a qualificação e capacitação faz com que muitos acabem desistindo já neste período, em razão dos bicos destinados a subsistência. Garantida a adesão ao processo de capacitação e qualificação, há que garantir também junto ao empresariado a contratação destes que vão se capacitar. Para tanto, é necessário que os cursos oferecidos dialoguem com as demandas do mercado de trabalho, seja aquele da Carteira Assinada, seja a demanda por serviços que podem ser oferecidas através de trabalho autônomo, individual ou coletivo. O empresariado também precisa estar cônscio de que exigir escolaridade maior do que aquela que de fato determinada profissão demanda, pode ser impeditivo da contratação destes trabalhadores e, em muitos casos, inclusive o não preenchimento de vagas de emprego abertas e imprescindíveis a continuidade do trabalho da empresa. O período entre a inscrição e início do curso, pelas razões já citadas tem que ser o mais curto possível. Iniciado o curso, há que ter acompanhamento direto da rede de Assistência Social do Município, dentro e fora da instituição de qualificação profissional, para constatar possíveis soluções para problemas que surjam, como creche ou brinquedoteca para os filhos das mulheres que frequentam os cursos, pressão de maridos com cultura machista que não querem “suas” esposas trabalhando, alimentação (cesta básica) para não haver a necessidade de no período do curso a pessoa ter que abandonar o curso para fazer “bicos” e outras pressões sociais que este público sofre. A pressão da mídia e de parcela da sociedade influenciada pela opinião midiática ou cultural, é pela pronta inserção na formalidade. No entanto os obstáculos que existem entre o curto espaço existente entre o Bolsa Família e a sua “porta de saída” é constituído de obstáculos interpostos pela cultura vigente. Para removê-los há que se ter instrumentos adequados, mas principalmente cabeça aberta para recebê-las. Não basta abrir a porta. É necessário mostrar o mundo que há por trás desta porta, e que não é conhecido para a maioria dos beneficiários do Bolsa Família e do público em situação de extrema pobreza. Para que isto ocorra, só a ação de qualificação, ministrada pelo Sistema S, que tem a experiência para tanto, não é o suficiente. Ensinar as coisas do mundo do trabalho e da acumulação para quem vive em outro mundo, o da subsistência e da sobrevivência imediata, não é o suficiente. É preciso montar a rede de acompanhamento citada, com a área da assistência social, qualificação profissional, trabalho e desenvolvimento econômico, para podermos chegar ao bom termo da

Ainda nos cursos as pessoas já foram contratadas pelas empresas pela qualidade dos cursos disponibilizados pelo SENAI
inclusão destes que hoje estão “incluídos fora” do nosso mundo. Acompanhei a implementação do Programa Próximo Passo – Costrução Civil, destinado a qualificar beneficiários(as) do Bolsa Família. Das formandas (por que a grande maioria foram mulheres), a empregabilidade foi de 90%. Mas o que narro nestas linhas foi um aprendizado prático. Até compreendermos que havia a necessidade de um acompanhamento das redes de assistência, de envolvimento de outros setores da sociedade, muitos dos inicialmente inscritos evadiram das salas de aula ou nem sequer começaram os cursos. O fato é que empresários que se envolveram no processo ficaram satisfeitos e estão dispostos a continuar. é preciso pois, que todos nos engajemos para que as portas não sejam só abertas, mas que se diga para que mesmo elas servem a quem até agora não passou por elas.
Luiz Müller
Diretor de Inclusão Produtiva
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
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