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Na USP do Alckmin, professor defende tese de que negros africanos tem QI menor que europeus

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–>Do Sul 21

O professor britânico Peter Lees Pearson, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), defendeu durante uma aula de pós-graduação a tese de que negros africanos têm QI menor do que o de europeus ou asiáticos. O polêmico episódio teria como base o artigo “James Watson’s mostly inconvenient truth: Race realism and moralistic fallacy”, de autoria de J. Philippe Rushton e Arthur R. Jensen.

Na última quarta-feira (22), Pearson defendeu a tese exposta no artigo. Assim que o conteúdo da fala começou a se espalhar, a aula foi ocupada pelo coletivo Ocupação Preta, que luta pela ampliação da presença negra na universidade. De acordo com a Revista Fórum, na ocasião, a sala contava com apenas uma pessoa negra dentre 20 estudantes e o docente não apresentou outro autor que fizesse um contraponto à tese que expunha.

Foto: Jornalistas Livres

A tese já foi rechaçada diversas vezes e o próprio James Watson foi exonerado de seu cargo de conselheiro no Spring Harbor Laboratory (CSHL) em Nova Iorque, em virtude de suas afirmações sobre a inferioridade cognitiva de pessoas negras.

“Entendemos que era necessária a ocupação dessa aula primeiramente porque quase todos(as) estudantes matriculados eram brancos(as). Este fato por si só já choca e evidencia o caráter elitista e racista da USP e dos cursos ministrados nela. Há um número irrisório de negros e negras nas salas de graduação e pós-graduação da tão reconhecida Universidade de São Paulo”, afirmaram à Revista Fórum alunas que fazem parte do coletivo.

Aos poucos, dezenas de negros, ao ficarem sabendo do conteúdo da aula, começaram a ocupar a sala para fazer o contraponto aos conceitos que estavam sendo levantados por Pearson. Muitos começaram a intervir e expressar sua opinião, mas o debate não fluía porque o professor, de acordo com os estudantes, passou a se comunicar em inglês.

“Quem não sabe falar em inglês, que fique sem se expressar”, ele teria afirmado. “O mais chocante certamente foi a posição do professor: impediu diversas vezes que mulheres pretas falassem, mandou os negros calarem a boca – literalmente! – incontáveis vezes, insistiu que não éramos capazes de compreender, ora pela língua, ora pela ciência. Constrangeu os próprios alunos os obrigando a se manterem na posição que ele escolhia. Além disso riu, fez escárnio e ironias várias vezes. É uma postura inaceitável, porque a posição clara de poder que ele ocupa diante dos alunos não deveria ser permissão para atitudes abusivas. Mas foi o que aconteceu”, explicaram os membros do grupo, que optaram por responder coletivamente aos questionamentos da Fórum.

De acordo com o Ocupação Preta, a ideia de entrar na sala de aula era firmar a presença negra na universidade e trazer à tona algumas perguntas, como: “Por que, em 2015, ainda é necessário dispensar esforços para combater tal artigo que expressa tão obviamente o racismo, quando poderíamos, nas mais variadas áreas, estar refletindo sobre assuntos produtivos à comunidade paulista que sustenta a Universidade de São Paulo?”; “Qual o significado político de uma discussão de tal artigo dentro de uma universidade composta por uma maioria branca elitizada?”; “É possível discutir se o artigo é racista ou não sem a presença dos sujeitos vítimas do racismo, no caso os negros?”.

Procurado pela Revista Fórum para se posicionar quanto às declarações dos estudantes, o professor Pearson não deu retorno até a publicação da matéria.

Confira a íntegra da nota do grupo Ocupação Preta.

Nota de Repúdio ao Racismo Pseudocientífico Defendido na USP

Ontem a Ocupação Preta esteve presente em uma aula da pós-graduação do Instituto de Biociências da USP. O propósito da aula era debater o artigo “James Watson’s mostly inconvenient truth: Race realism and moralistic fallacy”, de autoria de J. Philippe Rushton e Arthur R. Jensen, indicado pelo professor para “discussão em conjunto”.Entendemos que era necessária a ocupação dessa aula primeiramente porque quase todos(as) estudantes matriculados eram brancos(as). Dentre 20 pós graduandos(as) presentes, apenas um era negro. Este fato por si só já choca e evidencia o caráter elitista e racista da USP e dos cursos ministrados nela. Há um número irrisório de negros e negras nas salas de graduação e pós graduação da tão reconhecida Universidade de São Paulo.

Mais do que esta triste realidade uspiana (a inexistência de representatividade negra nas salas de aula), o que também nos motivou a fazer a intervenção na aula do Professor Peter Lees Pearson foi o conteúdo extremamente racista e ofensivo do material proposto. O artigo propõe análises comparativas de QI entre populações africanas, européias e asiáticas, sugerindo uma inferioridade intelectual do povo africano com base em estudos de James Watson. Os estudos de Watson foram rechaçados pela academia por serem baseados em estudos de cefalometria (herdeira cientifica da frenologia, um ramo pseudocientífico que serviu de base pra diversas atrocidades no meio médico e sobretudo psiquiátrico-manicomial) e análises de aplicações de testes de QI sem análises psicossociais. Watson foi inclusive exonerado de seu cargo de conselheiro no Spring Harbor Laboratory (CSHL) em Nova Iorque em virtude de suas afirmações sobre a inferioridade cognitiva de pessoas negras.Compreendemos que a escolha do artigo feita pelo professor foi infeliz, pois o texto apresenta racismo puro, explícito e além de não trazer dados concretos, foi apresentado sem autores(as) que fazem críticas a ele, endossando ainda mais o racismo de forma determinista. O desconforto a qualquer leitor(a) que respeite a dignidade humana é assegurado!

O ataque ao povo africano e à sua descendência é bastante claro. E esse ataque não passou despercebido desta vez. Contestamos, nos manifestamos contrários a escolha do artigo e fomos enegrecer a discussão com nossos posicionamento de negras e negros que somos, estudantes das mais diversas áreas da universidade que sentem o racismo todos os dias, resistindo e combatendo com muita força. O que nos surpreendeu foi a postura extremamente racista do professor que defendeu subjetivamente o texto e que não valorizava o diálogo, diversas vezes batendo palmas em cima da falas dos estudantes negros, dizendo “Shut up!” e se recusando a fazer a discussão em português, mesmo sabendo que havia estudantes que não entendiam inglês e por isso, não podiam se defender. O professor começou uma discussão sobre um artigo que ressaltava e queria provar a inferioridade intelectual negra, acusando as “pessoas extras” que estavam presentes de “não saberem ciência”.

A Ocupação Preta repudia esse tipo de método de aula, nas quais há a defesa de textos ultrapassados que remetem a pensamentos eugenistas.Repudiamos ainda a inflexibilidade da Universidade (em todos os níveis) em refletir assuntos que dizem respeito ao povo negro com os próprios sujeitos negros que se apresentam para discutir.Seguiremos resistindo e lutando para transformar e enegrecer a Universidade de São Paulo e todos os outros espaços que julgarmos necessários. E que a cada dia juntem-se a nós mais e mais pessoas negras que estudam na universidade se apoderando e ocupando espaços a nós historicamente negados.Queremos uma USP com menos “racist classes” e com mais cotas raciais que insiram a comunidade negra para transformar e guiar o conhecimento científico.

Dentro e fora da Universidade, RACISTAS NÃO PASSARÃO!


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3 pensamentos sobre “Na USP do Alckmin, professor defende tese de que negros africanos tem QI menor que europeus

  1. Um absurdo, mas o pior é saber que uma universidade pública como a USP admita essas atitudes. Tem que se cobrar do governo e da instituição um resposta urgente!!!!!

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  2. Pingback: Na USP do Alckmin, professor defende tese de que negros africanos tem QI menor que europeus | psiu...

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