“Demonizar a política é abrir as portas para o fascismo. É como defender justiceiros para combater a violência. Política vai mal? Façamos mais política. Sem ela, não há democracia”.
A DEMONIZAÇÃO DA POLÍTICA
Fábula de Esopo: Irritadas com a anarquia, as rãs pediram a Zeus um rei. Rindo, Zeus jogou um pedaço de madeira no açude e lhes disse: eis o rei. As rãs fugiram. Depois, como o pedaço de madeira permanecesse imóvel, voltaram à superfície. Achando-se logradas, imploraram a Zeus um rei mais enérgico. Zeus então lhes enviou uma águia, que as devorou.
Parece que as rãs brasileiras – incluídos os políticos autofágicos –, que pedem ditadura e zombam da política, estão “cansadas da democracia”. Querem um rei. Acham que os fins justificam os meios. Estamos “trabalhando” para isso. Só o fato de vazar – e depois “desvazar” – a lista da Odebrecht de mais de 200 nomes, a maioria deles envolvendo políticos de bem, já mostra o objetivo: demonizar a política. Por que vazar a delação (não homologada) de Pedro Corrêa? Para demonizar a política. Para mim, há uma nítida mensagem subliminar nisso tudo: criminalização total da política + missão purificadora + messianismo = tempestade perfeita.
Demonizar a política é abrir as portas para o fascismo. É como defender justiceiros para combater a violência. Política vai mal? Façamos mais política. Sem ela, não há democracia. O erro é achar que o juiz e o MPF podem tudo, até desrespeitar direitos. Fazer a coisa certa é combater a corrupção, mas sem atropelar direitos. Fosse assim e os militares teriam acabado com ela.
Por isso, as rãs devem cuidar com o que pedem a Zeus. Há em jogo uma dimensão maior, que não é um juiz que vai repor. Há 500 anos de História. Patrimonialismo. Nepotismo. Corrupção. Vejam as listas. E as delações. Quem escapou? Dom Pedro I está na delação? Será que aprendemos com a História? Triste país que precisa de heróis.
Salvemos, ao menos, a Constituição. E, com ela, a política. Sem elas, não há democracia. É o caos. Por isso, as conservo. Sim, sei que é antipático dizer isso em tempos de “pega e esfola”. Mas, como disse T.S. Eliot, “numa terra de fugitivos, aquele que anda na direção contrária parece
Lênio Streck é é um jurista brasileiro, conhecido principalmente por seus trabalhos voltados à filosofia do direito e à hermenêutica jurídica. Procurador de Justiça aposentado, foi membro do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul de 2 de setembro de 1986 até 31 de maio de 2014.
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Acertou na mosca!!! Se nem com a constituição foi possível que os políticos não se corrompessem…vê lá sem ela! Os três poderes têm parte de seus integrantes, mancomunados em rasgar a carta magna, para se perpetuarem no governo, “leiloando o Brasil! Para isso o legislativo usa dos subterfúgios do judiciário e ficam apossados do executivo, com a complacência da mídia, para agradar interesses do mercado nacional e internacional! A esquerda vai trazer de volta o estado democrático de direito! #ForaTemergolpista
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Tem certeza que concluiu esse artigo, rsssss
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Onde esta o final?
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Tens razão. Faltou a palavra fugir. Já estou corrigindo. Obrigado.
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