Pesquisa/política/privatização

Em defesa da Embrapa, da Pesquisa e contra a privatização (por Frei Sérgio Görgen)

Os alvos são a Petrobrás, a Eletrobrás, a pesquisa científica e, agora, a Embrapa os pilares da nossa soberania energética, alimentar e científica

Frei Sérgio Görgen (*)

O povo brasileiro precisa da Embrapa. O Brasil, para ser uma nação justa, soberana e seu povo bem alimentado, necessita da Embrapa – de uma Embrapa forte, pública, dinâmica, abrangente, plural, democrática, focada na transição ecológica que a vida humana e do planeta exigem, na agricultura familiar e camponesa, na produção de alimentos saudáveis e na soberania alimentar e genética.

Nenhuma nação se ergueu soberana e como civilização até hoje, nem na história antiga, nem na história recente, sem soberania alimentar, genética, energética e científica.

A Embrapa é um pilar essencial na construção de uma Nação Soberana e uma civilização justa e fraterna – projeto pelo qual lutamos. Sem ciências – sempre no plural e sempre plural, autônoma e soberana, sem deixar de ser dialógica e respeitadora – nossos sonhos civilizatórios se esboroam na dependência que nos escraviza a projeto de outros, que nos sugam e exploram.

Claro que defendo um sistema de ciências que seja respeitoso e aprendente com as sabedorias populares, também ciências, com outras matrizes epistemológicas.

A Embrapa é a madrinheira do pilar científico e tecnológico para a soberania alimentar do povo brasileiro – também para alimentar o mundo, não apenas com proteínas à base de soja, mas com alimentos diversificados – e, na medida que as fontes vegetais podem compor uma matriz sábia e equilibrada de alimentos, meio ambiente e energia (alimergia), também para nossa soberania energética.

Vejam que os que não amam o Brasil Nação, nem amam o nosso povo, embora tentem se apossar de nossa bandeira, são inteligentes e precisos: seus alvos são a Petrobrás, a Eletrobrás, a pesquisa científica e, agora, a Embrapa. Atingem os pilares básicos da construção de nossa soberania energética, alimentar e científica.

A Embrapa não escapou da sanha privatista dos atuais invasores do poder. Um projeto estranho – chamado de “Transforma Embrapa” – desenhado pela estranha Fundação Falconi, estranhamente contratada (não pela Embrapa, mas por entidades patronais do agronegócio) propõe a privatização disfarçada da Embrapa. Uma privatização velada, camuflada por palavras bonitas, uma armadilha bem arquitetada.

Aliás, esta fundação Falconi, um dia, terá que ser rigorosamente investigada pelos males causados ao povo Brasileiro como a grande arquiteta das privatizações. No caso da Embrapa, de modo especial, haverá muito a explicar.

O projeto de privatização desenhado pela Falconi é inteligente, sagaz, bem arquitetado, mas bandido e antinacional. Coloca a Embrapa nas mãos das multinacionais, de quem pode pagar pesquisa, retira o Estado de suas responsabilidades de financiar a ciência e a pesquisa, e joga tudo ao mercado.

Vejam só. Raciocinem comigo. Quem domina o fornecimento de produtos e tecnologias para o agro brasileiro hoje são as multinacionais. Não precisam da pesquisa, nem dos pesquisadores da Embrapa. Tem sua própria pesquisa. Quem precisa da Embrapa são os pequenos e médios agricultores, pecuaristas, silvicultores, pescadores, extrativistas, povos do campo, águas e florestas.

Mas se as transnacionais do agro não precisam da Embrapa enquanto Empresa pública de pesquisa, e não lhes interessa, elas têm interesses específicos e altamente lucrativos no seu capital de saberes: o acervo científico e tecnológico acumulado em décadas de pesquisa e o enorme e fantástico patrimônio genético (um dos maiores bancos de germoplasma do mundo) mapeado, identificado e disponível de sementes, mudas, princípios ativos e microorganismos, que poderão ser vendidos a preço vil por uma Embrapa desfibrada e capturada.

Anos e anos de estudos, pesquisas, desenvolvimento tecnológico, relação com as comunidades camponesas para resgatar, selecionar, melhorar e identificar usos, da genética animal, agrícola, alimentar, energias renováveis, defesa agropecuária, florestal, medicinal, higiene, limpeza, plantas bioativas, restauração ambiental, rochagem, bioinsumos, controle biológico, e muito mais, serão entregues a preço vil às multinacionais, ferindo de morte os interesses do povo brasileiro.

Por isto, esta convocação. Nos postemos de pé, em defesa da Embrapa pública, patrimônio do povo brasileiro e cada vez mais voltada às reais necessidades do nosso povo.

(*) Frade franciscano, militante do MPA e Via Campesina

2 pensamentos sobre “Em defesa da Embrapa, da Pesquisa e contra a privatização (por Frei Sérgio Görgen)

  1. Privatização mais que tardia. Empresa com péssimo resultado para sociedade, pode estar dando lucro, mas e que custo? Corporativismo de funcionários com salários milionários, usinas sucateadas e barragens sem nenhum acompanhamento podendo ocorrer um desastre a qualquer momento. CEEE Geração deveria ter sido a primeira a ser vendida assim como a CEEE D, “dado é caro essa empresa”, quem escreveu este texto não conhece a realidade destas empresas formadoras de “marajás”.

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    • Na minha rua, no meu bairro e na minha cidade a CEEE Distribuidora atendia com muita rapidez qualquer problema. Na semana passado, com a CEEE agora equatorial, ficou a rua inteira sem luz por 3 dias. E o problema era só um poste. É assim em todo lugar. E quanto a CEEE Geração, Barragens sucateadas? Onde tu viste isto? Nunca faltou luz pra ninguém no RS . Quanto a “funcionários com salários milionários”, este é um problema de Gestão. Não te parece estranho que o Gestor, o Governador, usasse justamente este como um dos argumentos pra privatizar? E outro o do sucateamento? Mas isto é problema de gestão. Não resolveu por que não quis. Pra poder vender. E se deu lucro, significa que além do Estado faturar com os tributos, ele ganhou dinheiro pra poder reinvestir em energia Agora fica sem o lucro e sem a produção de energia. Vai ficar na mão de empresas privadas, ou pior ainda, na mão de Estatais de outros países, que ganhar dinheiro vendendo energia mais cara por aqui. A RGE e a AES-Sul, tu deves saber, pertencem a 2 Estatais de Energia do China. E assim também será com a Equatorial e ainda mais com a CEEE Geração. E os liberais guascas, muitos anticomunistas inclusive, vão pagar, muitos já pagam, no caso da AES e da RGE, pra os Chineses. Privatizar é bom né?

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