
Nos artigos Fragmentos da Guerra Hibrida: Pesquisa mostra origem, antecedentes e consequências de junho de 2013 no Brasil e De 2005 a 2020,O PT e a Guerra Híbrida no Brasil: as muitas batalhas perdidas e poucas ganhas na comunicação e em vários outros, externei minhas opinião sobre o tema da Guerra Hibrida e Semiótica movida contra a Classe Trabalhadora no mundo todo.
Hoje o amigo Santos Fagundes me passou outro artigo sobre o Tema, do Sociólogo Adriano Almeida. Publico-o na íntegra por que entendo que mesmo que Lula venha a ser vitorioso, as estruturas de Guerra Semiótica e Hibrida se consolidaram, avançaram e seguirão ameaçando a Democracia no Brasil, como a ameaçam no Mundo.
Se o PT e a esquerda seguirem operando como se ainda vivêssemos nos tempos da comunicação analógica, seremos engolidos tão logo consigam tirar Lula do páreo novamente.
Não será surpresa, se com Lula eleito, a Direita e o Capital que a financia, não operem um novo “junho de 2013”, 10 anos depois.
Leia a seguir o artigo na íntegra
URGE ELEGER LULA E REINVENTAR A ESQUERDA BRASILEIRA DIANTE DOS EFEITOS DA GUERRA HÍBRIDA OPERADA PELA EXTREMA DIREITA
Adriano Almeida, sociólogo.
A minha hipótese era de que a realidade nacional seria substrato para tomadas de decisão nas urnas pelas pessoas contra o projeto político austero, autoritário e fundamentalista da extrema direita.
Mas, no domingo, 2 de outubro, a hipótese caiu por terra. Quase a metade do país é a favor do atual presidente e seu projeto ultraneoliberal e autocrático e contra o Estado Democrático de Direitos.
E isso só é possível pela força contundente de manipulação das consciências das táticas de linguagem e de psicologia social usadas pelo comando da extrema direita brasileira no Brasil: as forças armadas, os movimentos cristãos neopentecostais e o crime organizado, a partir de conceitos de Guerra Híbrida ou Guerra Cognitiva ou Comunicacional. O conjunto de táticas, estratégias e instrumentos da Guerra Híbrida, colocado em prática através de operações psicológicas militares, desorienta o indivíduo e a sociedade e debilita o poder de tomada de decisão por um bombardeio de informações manipuladoras, através de campanhas de notícias fabricadas, as conhecidas fakes news. Por isso, notícias produzidas por mídias profissionais não surtem efeitos nas bolhas da extrema direita, muito pelo contrário.
O que as forças armadas, os movimentos cristãos neopentecostais e o crime organizado têm em comum: (i) sentimento corporativo forte; (ii) hierarquia em cadeia de comando; (iii) organização em sistema capilarizado e extensivo em redes local, regional e nacional; (iv) altíssima capacidade crível, de difusão e de engajamento.
Antecede à execução da Guerra Híbrida um diagnóstico dos grupos alvos e um plano de realização para disparar as chamadas bombas semióticas, que são recursos para fazer as pessoas verem miragens como no deserto, a partir de ilusão de ótica e da linguagem (STF inimiga da pátria, Lula ladrão, esquerda comunista, escolas sexualizando crianças, governo de esquerda aplicando mamadeira de piroca nas escolas, etc). As instituições não aparecem. Elas ficam atrás dos panos. Elas recrutam um exército operador para disseminar conteúdos nas redes sociais e o governo fica responsável pela produção dos conteúdos com apoio de especialistas em mídias, publicidade e propaganda no chamado escritório do ódio.
As forças armadas brasileiras acreditam que a esquerda brasileira tem um plano de hegemonia e domínio político no Estado brasileiro, usando a máquina pública para disseminar a cultura comunista no país. Esta crença da caserna militar encontrou fundamentação na filosofia de Olavo de Carvalho, que também acreditava que há um plano internacional de hegemonia comunista, o chamado globalismo cultural marxista. O filósofo também defendia a tese de que o iluminismo moderno é este plano de hegemonia comunista e que somente a cultura política, econômica e dogmática dos Estados Unidos detém o poder de garantir o retorno da humanidade ao Reino de Salomão e livrar o mundo do comunismo, sendo o liberalismo austero econômico a meta a ser alcançada, o Estado do Bem Estar Social a ser derrotado e a exaltação da meritocracia, onde o sucesso e a riqueza só devem ser fruto do esforço e do trabalho individual, nunca do Estado ou de uma política pública.
O protestantismo não acredita na predestinação, daí a aversão da extrema direita às políticas de promoção da igualdade racial, como política quilombolas ou a de cotas nas universidades públicas federais. Daí a aversão frontal da extrema direita brasileira à ciência, a crença de que a terra é plana e a sua idolatria aos Estados Unidos. Daí também a junção perfeita entre os militares e as instituições religiosas cristãs neopentecostais brasileiras. A engrenagem fica completa com a aproximação da família do presidente com as milicias e outras organizações do crime do Estado do Rio de Janeiro, as quais têm ramificações nacionais. Uma meta da extrema direita brasileira é legalizar as milícias no Brasil, tal qual elas são nos Estados Unidos. Por isso, o interesse no mercado aberto da venda de armas de fogo no país, com a desculpa do cidadão se defender de bandido. Os Estados Unidos têm a maior população carcerária do mundo.
Na Guerra Cognitiva ou Comunicacional o ser humano, as instituições e as relações sociais são os territórios de instalação dos conflitos com objetivo de instaurar o caos. Usam falsas bandeiras, como moralidade, família, nacionalismo, patriotismo, e promovem uma inversão nas imagens de instituições, alterando a percepção de realidade das pessoas e induzindo elas a reproduzir discursos sobre as imagens da realidade distorcidas, promovendo crenças mobilizadoras das massas como enxames de abelhas, tendo na figura de uma liderança política a representação mítica com apelo a doutrinas e dogmas religiosos. As máximas do movimento são fixação da ideia conspiratória, construção de inimigos da pátria e a ideia de povo é substituída pelas de pátria, hierarquia, ordem, disciplina e moral. E a distinção entre militares e civis desaparece.
A lógica da extrema direita operada aqui é a mesma usada pela corrente internacional, a mesma que trouxe o fascismo novamente para a Itália e recupera o integralismo do inter-guerras. Aqui, na versão brasileira, galvanizam instituições patriarcais estruturais da sociedade e do Estado brasileiro com base no colonialismo contínuo e usam como vetor de política.
Por isso, acredito que, para além do imperativo de eleger Lula e o seu programa do Bem Estar Social e de defesa do Estado Democrático de Direitos, temos o imperativo de reinventar a esquerda em torno de um projeto que seja reencantador e responsável por um arrasto das massas e recuperação do espírito de corpo nacional. E para tal é necessário fortalecer, para além do pleito eleitoral, a unidade em bloco dos partidos e movimentos pró democracia. E Lula é o único capaz de promover esse feito. E este programa precisa ser pactuado agora.
43% dos eleitores brasileiros em adesão ao projeto político da extrema direita é resultante do poder e da eficácia de manobra e manipulação das massas pelas táticas e instrumentos de guerra cognitiva usados pela extrema direita no mundo, com aplicação exemplar aqui no Brasil desde 2013, com a Revolução Colorida de Junho, que resultou em 2016 com o golpe de Dilma, com o fortalecimento da Lava Jato, com a prisão do Lula e com a eleição da extrema direita em 2018.
O poder e eficácia de manobra e manipulação das táticas e instrumentos de guerra cognitiva usada pela extrema direita no mundo, com aplicação exemplar aqui no Brasil, não pode ser subestimados e urge encontrarmos um programa que quebre o feitiço encantador da extrema direita, que bloqueie os seus efeitos e supere-os.
Para finalizar, eu faço dois questionamentos: quem compõe a esquerda e o que ela sabe sobre Guerra Híbrida? Em contexto de Guerra Híbrida, redes sociais e recrutas inebriados pelo sistema de pensamento da extrema direita são os operadores mobilizadores e difusores mais estratégicos que as instituições, as quais não aparecem, ficam por trás dos panos. Por isso, a extrema direita pouco se importa com partido e lideranças só se filiam para as eleições por necessidade burocrática.
Referências:
LEIRNER, Piero. O Brasil no Espectro de uma Guerra Híbrida – Militares, Operações Psicológicas e Política em uma Pesquisa Etnográfica, São Paulo, Alameda, 2020. http://resistir.info/livros/guerra_hibrida_brasil.pdf
Guerras Híbridas – Das Revoluções Colorida aos Golpes. São Paulo: Expressão Gráfica, 2018. http://resistir.info/livros/guerras_hibridas.pdf
E no tuite a seguir, um vídeo do Lula ainda no cárcere, analisando a Intentona da Guerra Hibrida em 2018 do fatídico #EleNão e suas consequências:
Pingback: URGENTE!! Eleger Lula! E o PT e a Esquerda precisam acordar para a Guerra Hibrida – Minerva Sophie Entretenimento