
Por Cláudia Schiedeck Soares de Souza, Ex-reitora do Instituto Federal RS
Desde que o inominável inaugurou a era da escuridão no Brasil, a educação pública brasileira vem sofrendo ataques. Quando não lança críticas estapafúrdias, espalha a blasfêmia, o desprezo e a ignorância. Vocês conhecem aquela máxima do JK? Cinquenta anos de desenvolvimento em cinco. Pois, no caso do Brasil nosso de cada dia, é o contrário: quatro anos que passam tão devagar que a sensação é de já vivemos quarenta anos sob trevas. Os retrocessos vão além desse tempo. Devem passar dos cem anos. Escolho a educação para falar por ser minha área, mas acredito que todos os setores de políticas públicas sentem a derrocada tanto quanto nós, servidores da educação. Nunca antes na história desse país se viu um descalabro tal com a educação.
Ingressei como docente da Rede Federal em 1997, sob o manto de FHC. Reajuste zero, orçamento quase zero, sucateamento da infraestrutura física, um que outro concurso. Mas havia na gestão Paulo Renato de Souza, então Ministro da Educação, uma base ideológica que fazia sentido: o neoliberalismo advindo do Thatcherismo britânico, chegando quase uma década atrasado pelas terras tupiniquins. Sabíamos contra o quê lutávamos. Tínhamos argumentos, dados, estudos, nos contrapondo à privatização do ensino público e ao gerencialismo tecnicista imposto pelo Banco Mundial e FMI.
Com o golpe contra a Presidenta Dilma, passamos a viver uma montanha russa de emoções, que se transformou numa perigosa espiral da morte no governo do “fulaninho”. A começar pela escolha dos ministros. O desprezo pelo setor educacional é tanto que todos os escolhidos para chefiar o Ministério da Educação parecem saídos de um filme de horror. O primeiro nem brasileiro era. O segundo era mal-educado, falastrão e desequilibrado. O terceiro fraudou currículo. O quarto é mais afeito a bíblias do que aos livros. Nenhum deles tinha a mais remota ideia da porta da entrada do MEC. Nenhum deles sequer se deu ao trabalho de estudar os números, as estatísticas da educação pública brasileira.
Se o COVID-19 permitiu que as pessoas compreendessem minimamente a importância do SUS, na seara educacional, ficamos reféns de um governo sem política, sem rumo e sem liderança. As únicas palavras que obtivemos do governo federal foram: vagabundos, maconheiros, globalistas (sic), entre tantos outros adjetivos nobres. Nossos líderes máximos (contém ironia) esqueceram que as instituições federais de ensino foram responsáveis pelas pesquisas de ponta durante a pandemia. Fizeram de conta que não trabalhamos incansavelmente em projetos de extensão para poder levar conhecimento, tranquilidade e suporte alimentar ou financeiro as famílias de nossos alunos no país. Desconsideraram o esforço dos nossos professores e servidores (em todas as esferas) para se adequar ao ensino remoto, mesmo sem condições técnicas ou pedagógicas para tal.
Na sexta-feira, dia 27 de maio, para nos punir por algo que não se compreende, o governo federal cortou 3,2 bilhões da educação. As instituições federais, por onde circulo mais, terão no ano de 2022 o mesmo orçamento numérico que tiveram em 2010. É uma catástrofe ainda mais perversa do que a pandemia. No momento em que mais precisamos de investimentos e políticas educacionais consistentes para podermos recompor a infraestrutura e o número de alunos, o governo federal nos ataca novamente. Não que pudéssemos esperar algo muito melhor que isso, porque de onde menos se espera é que não vem nada mesmo. Tenho certeza, porém, de que a expectativa era de que os recursos seriam semelhantes aos de 2021, quando ainda fechadas, as escolas gastaram menos luz, menos água, menos terceirização, menos tudo. Poderíamos também falar do congelamento dos auxílios estudantis, que foram fundamentais para a permanência dos estudantes nos bancos escolares, e dos cortes nas bolsas de pesquisas, relevantes para garantir o mínimo de estudos sérios no país. E o que temos então? A PEC 206, com a proposta de um “iluminado” general deputado, que defende a cobrança de mensalidades para o ensino superior, baseada em dados falsos e orientações internacionais, sem qualquer discussão sobre o tema.
O cenário é esquizofrênico e desolador. Tenho conversado com muitos. Todos eles desanimados e desencantados com o momento que vivemos. Contudo, essa é a hora de termos força e de nos posicionarmos mais enfaticamente. É preciso trazer a luz. É preciso trazer a esperança. É preciso fazer com que as pessoas sonhem novamente com o futuro. Essa é a hora. Será difícil, mas nunca foi fácil mesmo. Não para aqueles que defendem a utopia de um mundo mais justo e solidário. Esse é um chamado à ação. Temos uma missão, como professores e servidores da educação. A missão de ampliarmos nossa base de apoio no Congresso Nacional e elegermos Lula presidente do Brasil. Vamos nessa?
Muito bom. Sentimentos contraditórios: é tocante perceber a capacidade de luta de algumas pessoas, como a Claudia; ao mesmo tempo, dá uma raiva imensa saber que uns poucos conseguem destruir os que muitos lutaram uma vida inteira para conseguir. Precisamos derrotar o neoliberalismo com urgência.
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