
Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelou que agentes de todo o País defenderão quem for o vencedor das eleições, declarado pelo TSE
Eventual posse de LULA em 2023 é defendida por 81% dos policiais e 84% dizem preferir democracia a golpe —
Uma pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que 80,9% dos policiais de todo o País concordam que o vencedor das eleições declarado pela Justiça Eleitoral deve tomar posse em janeiro de 2023. Isso quer dizer que o grupo defende que em uma eventual vitória de LULA em outubro, o ex-presidente deve assumir o Palácio do Planalto em 2023. Outros 84% dizem preferir democracia em lugar do golpe que empresários apoiaram em um grupo de WhatsApp, para o caso da confirmação da eleição do líder das pesquisas.
O resultado do levantamento foi divulgado ontem (27/8) e publicado pelo jornal O Estado de São Paulo. Os responsáveis pela apuração ouviram 5.058 policiais civis, militares, federais, penais, guardas civis e bombeiros militares em todos os Estados e no Distrito Federal. De acordo com o ex-secretário nacional de Segurança Pública, coronel José Vicente da Silva Filho, a pesquisa é surpreendente, em razão da adesão tradicional dos policiais a pautas conservadoras e, ultimamente, ao governo Jair Bolsonaro:
“Esse resultado surpreende pela intensidade da adesão à legalidade democrática. Há uma enorme simpatia por Bolsonaro, principalmente nas PMs, mas isso não significa adesão a qualquer ideia de ruptura institucional“
Recente pesquisa Datafolha mostrou que, em relação às polícias, a que mais apoia a democracia e a posse dos eleitos são a Federal e a Científica, com índices próximos de 65% de total concordância em ambos os casos. A adesão menor, simbolizada aqui pelo apoio em parte ao enunciado das duas perguntas, está na Polícia Penal (11% em relação à democracia e 18% sobre a posse dos eleitos) e nas Polícias e nos Corpos de Bombeiros Militares (10% e 17%, respectivamente). Os dados da pesquisa sugerem afastamento da possibilidade de corpos policiais serem mobilizados por alguma força política que queira questionar o resultado das urnas eletrônicas, a exemplo do que fez o presidente ao condicionar o reconhecimento de eventual derrota ao que ele chamou de eleições “limpas e transparentes”.
Nesta semana, integrantes do Conselho Nacional de Comandantes-Gerais das Polícias e Corpo de Bombeiros Militares estiveram reunidos com o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Alexandre de Moraes, para discutir a segurança nas eleições. O presidente do órgão, coronel Paulo Coutinho, afirmou ao jornal que não há hipótese de as polícias se unirem em uma ofensiva contra o sistema democrático. Ele disse ainda que o resultado das urnas será respeitado e que não há risco de quebra da hierarquia ou disciplina.
Para o presidente do fórum, o sociólogo Renato Sérgio de Lima, embora a adesão dos policiais à democracia seja alta, é preciso lembrar que Bolsonaro nunca se disse contrário a essa forma de governo. De fato, os dados da pesquisa mostram que, ao serem confrontados com a pergunta sobre se “em alguns casos seria justificável que os militares apoiassem ou tomassem o poder através de um golpe de Estado”, apenas 55,6% dos entrevistados discordaram da afirmação, enquanto 14,7% concordaram ou concordaram totalmente com uma ruptura, e 19,1% concordaram em parte.
Outra pergunta que teria capturado o risco de radicalização de parte dos policiais seria a que mostrou que 62,9% discordavam da afirmação de que um governo podia agir fora de lei e por cima do Congresso e das demais instituições em uma situação de crise para resolver problema. Apesar desses resultados, Lima também disse que a situação que se desenhava antes do 7 de Setembro do ano passado era mais grave do que a pesquisa capturada agora. Em agosto daquele ano, um dos comandantes da PM paulista, o coronel Aleksander Lacerda, foi afastado por criticar em uma rede social ministros do Supremo Tribunal Federal, por ofender o então governador João Doria (PSDB) e por pregar o comparecimento no ato bolsonarista convocado para a Avenida Paulista, em São Paulo.
“O problema é que para Bolsonaro a palavra democracia tem outro sentido e comporta a contestação do resultado das urnas eletrônicas. A reação dos comandantes de tropas disciplinando, por exemplo, o uso de redes sociais e combatendo manifestações de caráter político-partidário entre policiais da ativa freou a tendência de radicalização”
RENATO SÉRGIO DE LIMA (Sociólogo)
Presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Voltando a José Vicente, o coronel concorda que a ação dos comandantes-gerais foi importante para a manutenção da disciplina e da hierarquia nas organizações policiais. Em outra pergunta, apenas 26,7% dos policiais concordaram com a afirmação de que a sociedade seria mais segura se todos os cidadãos pudessem andar armados. Ao mesmo tempo, 74,9% dos policiais concordaram ou concordaram totalmente com a afirmação de que o respeito aos direitos humanos é essencial para a democracia. A maioria (52,7%) concordou ainda ser importante para a democracia que os tribunais sejam capazes de impedir o governo de agir além de sua autoridade.