
Selvino Heck também foi Deputado Estadual Constituinte no RS, em 1986
24 de dezembro de 1975, sou chamado ao 5º andar do prédio central da PUC do Rio Grande do Sul, Gabinete do Reitor. O Irmão José Otão, Reitor da PUCRS, comunicou-me o seguinte: Eu e três colegas – Hermes Miolla, Paulo Vidor e Nínive Florisbal Figueiró -, todos estudantes do curso de Teologia, não teríamos renovada nossa matrícula na Universidade para 1976. Era uma forma ‘branda’ de expulsão da Universidade, sem precisar fazer mão dos Decretos da ditatura militar então vigentes.
As razões estão expressas nos informes do SNI (Serviço Nacional de Informações), V COMAR e DOPS/RS, em transcrição literal: “CONFIDENCIAL – Ficha informativa nº 12.164. Em 13 JUN 75, INFO. O nominado (no caso eu, Selvino Heck) foi eleito para a Diretoria do DCE/PUC/RS, gestão 75/76, o qual está infiltrado de elementos esquerdistas, capazes de manipular técnicas de propaganda, objetivando ampliar a área de influência no meio estudantil.”
Ainda. “22 SET 75 – A diretoria do DCE/PUCRS, gestão 75/75, é composta por JORGE VIEIRA (economia) – Presidente, LUIZ ALBERTO RIGON (odontologia) – vice-presidente, e o nominado (teologia e Letras). Lançaram o panfleto ‘O GRAMPO’, editado e distribuído em SET 75, abordando tópicos sobre o ‘477’, a ‘liberdade’ e o apelo para que os acadêmicos da PUC/RS se engajem no Movimento Estudantil de Esquerda. Esta diretoria está infiltrada de elementos esquerdistas, capazes de manipular, adequadamente, técnicas de propaganda no meio estudantil.”
Outro informe. “21 NOV 75 PUC/RS – INFO – O nominado, Hermes Miolla, Paulo Vidor, e Nínive Florisbal Figueiró, alunos do Instituto de Teologia/PUC POA/RS, tiveram suas atividades suspensas por 30 dias de seus cursos por serem responsáveis pela publicação de um ‘jornalzinho’ naquela Faculdade, o qual procura ridicularizar todas as atitudes tomadas por qualquer autoridade, como direção e professores da referida faculdade, bispos e, principalmente, do governo.”
Ainda: “21 nov 75 – O Diretor do Instituto de Teologia e Ciências Religiosas da PUC/RS, UZ (Urbano Zilles) aplicou ao nominado, SH (Selvino Heck), a pena de suspensão das atividades acadêmicas por 30 dias, com fundamento no art 159, letra c, & 3º, letra a do Regimento Geral da PUCRS, por participar de atividades de ridicularização em publicações caluniosas de autoridades, perturbando o clima de respeito e colaboração existente naquela Universidade. (SS 19.2/771/75) fb nº2413/77).”
Eu era o representante geral dos alunos e DCE junto à Reitoria e representante dos alunos da Teologia junto à direção da Faculdade. Cursava Letras e Teologia.
Resultado imediato da não renovação da matrícula: não pude concluir o curso de Teologia. (Como estava no terceiro ano, a Província franciscana do Rio Grande do Sul ativou seu curso de Teologia com um único aluno. Assim, formei-me e obtive o diploma em Teologia). Resultados futuros: D. Vicente Scherer, Chanceler da PUCRS, vetou minha ordenação sacerdotal no final de 1976, para o que tinha me preparado a vida toda. Saí de casa aos onze anos, 1963, para o Seminário Seráfico em Taquari. Problema adicional: Como explicar, naqueles idos tempos, os acontecimentos para uma família de colonos de uma pequena comunidade do interior do interior do Rio Grande do Sul, cujo sonho era ter um filho padre?
A vida, por força das circunstâncias, começou a tomar outros rumos. Como frade, fui morar numa comunidade franciscana na Lomba do Pinheiro, bairro popular, periferia de Porto Alegre e Viamão, para atuar em Comunidades Eclesiais de Base, Pastorais Populares (Pastoral da Juventude e Pastoral Operária), Associações de Bairro, o que plasmou definitivamente os compromissos com o povo trabalhador e com uma sociedade justa e igualitária. Mais adiante, saí da vida religiosa franciscana.
Natal inesquecível este de 1975. Um jovem de 24 anos viu parte de seus sonhos desmoronarem. Mas outros sonhos, ou os mesmos, de outra forma, puseram-se no lugar. O nascimento de Jesus numa manjedoura, não recebido em hospedaria, atraiu os pastores. Em meio ao inesperado e às maiores dificuldades e crises, é preciso sempre de novo (re)nascer.
Feliz Natal a todas e todos!
Selvino Heck
Assessor Especial da Secretaria de Governo da Presidência da República
Em vinte e quatro de dezembro de dois mil e quinze
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